Alpiarcenses pelo mundo: A vez de Nuno Costa

Nuno Costa está a residir em Luanda e foi lá que encontrou parte da realização profissional. A sua carreira de engenheiro alimentar só conheceu sucesso numa empresa angolana de renome. Para este alpiarcense estar dentro ou fora do país resume-se a uma questão de habituação.

Como foi crescer em Alpiarça? Destaca algumas memórias desse tempo?
Crescer em Alpiarça foi muito bom. Em parte devido à proximidade dos amigos e de tudo fazermos para nos encontrarmos fosse para jogar à bola no campo da escola primá- ria ou para jogar ao esconde noite dentro na rua dos Cardigos.

Recorda alguma situação mais engraçada da sua adolescência?
Lembro-me dos primeiros tempos em que íamos para os treinos de futebol do Águias de Alpiarça e nos sentávamos na esplanada do ‘Esturrado’ e comprávamos garrafas de litro de sumo da Rical para bebermos todos. À ida para casa parávamos nas bombas e fazíamos uma competição a ver quem conseguia meter mais ar nos pneus, por vezes era até rebentar… Ainda a caminho de casa fazíamos uma ronda nos portões, quase os arrombávamos… Lembro-me de num destes episódios o meu vizinho Casaca ficar encaixado entre um poste e o portão, ia sendo apanhado.

O que o levou a emigrar?
A procura por melhores condições de vida e a possibilidade de um futuro melhor tanto para mim como para quem faz parte do meu círculo. E também a procura por uma realização profissional, visto o mercado de trabalho em Portugal estar totalmente estagnado e com salários miseráveis. Qual é a sua área profissional? Sou Licenciado em Engenharia Alimentar.

E conseguiu emprego nessa área em Angola?
Sim, consegui. Entrei num ponto de saturação quando ainda aí estava e comecei a pesquisar empregos na minha área. Concorri para um anúncio em que pediam um colaborador para um centro de classificação de ovos. Hoje em dia sou supervisor de produção com outras responsabilidades diferentes das que tinha no início.

Ou seja, não só conseguiu emprego na sua área como também já progrediu na carreira…
Podemos dizer que sim. Trabalhar em Angola não é para todos. No início estranha-se e depois entranha-se. Existem outros casos de pessoas que não se adaptam, felizmente pertenço ao primeiro grupo. Sinto o meu trabalho reconhecido por parte da administração de empresa da qual faço parte.

A adaptação ao novo país foi fácil ou deparou-se com obstáculos inesperados?
Não foi assim fácil, fácil, mas com persistência tudo se consegue. O início foi difícil, por vezes não havia energia no sítio onde ficava ou não havia água. Com o tempo aprende-se a contornar esses obstáculos.

Como descreve Luanda, a sua gastronomia e os seus cidadãos?
Luanda é uma cidade caótica, por vezes, em que temos de ter sempre atenção onde vamos e a que horas vamos. A nível gastronómico só ainda provei dois ou três pratos de cá mas posso dizer que adoro o Mufete que aqui fazem. Angola tem peixes gigantescos em comparação aos da costa portuguesa. Os cidadãos são no geral boas pessoas bastante acolhedoras e de fácil trato.

Há algum hábito típico angolano que o Nuno tenha adquirido?
Que me lembre não, só se considerarmos a expressão “yah”. Aqui usa-se essa expressão sempre que a resposta é positiva… yah!

A constante inflação que torna Luanda uma das capitais mais caras do mundo tem afetado a sua vida enquanto emigrante?
Claro que sim! Os preços aqui mudam a cada semana. Está tudo mais caro, certos produtos por vezes escasseiam, os combustíveis custam o dobro do que custavam e os restaurantes estão bem mais caros também.

Ainda assim, acha que continua a compensar em relação a Portugal? Porquê?
São situações que não se podem comparar. Eu aqui recebo um salário que nunca na vida vou ganhar aí. O custo de vida aqui é bastante elevado, Angola é um país principalmente importador o que por si só já inflaciona bastante o preço de qualquer bem. Geralmente as refeições que faço são em casa, os preços são atualizados semanalmente nos supermercados. Sempre que vou às compras tento adquirir tudo o que preciso de uma só vez para não andar sempre neste vai-vem de compras. Eu não vivo bem em Luanda, vivo na periferia e, por vezes, para fazer uns míseros km demoram-se horas. Os Restaurantes não ficam nada baratos mas pelo menos uma vez por semana tem de haver um bom almoço e um bom jantar, tipo terapia (risos), não querendo dizer que os restantes repastos sejam maus. Aí a brincadeira pode custar 50 até muitos euros, podendo encontrar-se, por vezes, soluções mais baratas.

Deseja poder regressar de vez a Portugal ou Angola é uma opção para o resto da vida?
Eu não penso em regressar, nem em ficar. Penso, sim, em estar onde me sinto bem. Adaptei-me bem a Angola e sinto-me bem aqui. Adoro este clima e este país, pena tenho eu de não o poder conhecer mais.

Que conselhos daria a alguém que planeia viver e trabalhar em Luanda?
Para quem decide viver e trabalhar em Angola o conselho que dou é que venha com condições bem definidas a nível de salário, alojamento e transporte e que ninguém faça a toma dos comprimidos da malária; sim, não os tomem. Aqui as coisas resolvem-se, as pessoas quando têm paludismo ou malária vão às Clínicas e lá resolvem os problemas.

Porque desaconselha os comprimidos contra a malária?
Não aconselho as pessoas a tomarem os comprimidos da malária porque os comprimidos não evitam que se apanhe a doença. Simplesmente vão camuflar os efeitos sentidos por nós o que, por vezes, leva a um diagnóstico errado. Sem comprimidos basta-nos ter uma perceção geral do nosso corpo e saber bem os sintomas de quem tem malária para um diagnóstico, ou desconfiança, plausível, evitando que o problema se agrave. Tomar os comprimidos, por vezes, consoante os organismos, pode fazer com que se passem noites mal dormidas porque o Mephaquin e o Malarone [comprimidos contra a malária] puxam demasiado pelo fígado e também causam alucinações.

O que lhe deixa mais saudades em Alpiarça?
Em Alpiarça o que me deixa mais saudades são a família, os amigos e a comida da mãe (risos).