Um novo filão de ouro: empresa de canábis para uso medicinal quer instalar-se em Alpiarça

Foi aprovado na última reunião de Câmara (12 de novembro) o pedido de declaração de inexistência de restrições ao cultivo da planta da canábis para fins medicinais, com o objetivo de desenvolver este projeto em Alpiarça.

A Panoplytask Lda., empresa de cultura de especiarias, plantas aromáticas, medicinais, farmacêuticas e de fabricação de de produtos farmacêuticos do Cadaval, pretende reconstruir infraestruturas e instalações para operar em Alpiarça e refere a empresa que, além do cultivo e produção desta planta, o projeto contempla o desenvolvimento e implementação de um laboratório de produção, investigação e produção de produtos derivados para fins medicinais.

Este será um investimento de 10 milhões de euros que prevê a criação de cerca de 90 postos de trabalho e ainda a mudança da morada atual da sede da empresa para as futuras instalações na Triplanta, Viveiros do Oeste, SA.

Após esta declaração de inexistência de restrições à plantação para fins medicinais, a empresa solicitará ao INFARMED a respetiva autorização.

Um filão de ouro verde

Com a Lei 33/2018 de 18 de julho que estabeleceu o quadro legal para a utilização de medicamentos, preparações e substâncias à base de canábis ( para fins medicinais) e a Lei 8/2019 de 15 de janeiro, uma nova perspectiva económica surge em Portugal.

A canábis é usada essencialmente no alívio da dor crónica em adultos, das náuseas e vómitos associados aos tratamentos oncológicos e até no controlo da ansiedade mas a investiga-se a sua aplicação em doenças como a esquizofrenia ou parkinson, por exemplo.

Com boas condições climáticas para o cultivo desta planta, Portugal torna-se apelativo para a indústria farmacêutica mundial que aqui vê uma possibilidade de investir e de acelerar a investigação na área do medicamento. Portugal entra num novo mercado com a Alemanha, na Europa, à cabeça na lista de países interessados na canábis e seus componentes mas empresas canadianas, israelitas, norte-americanas e britânicas entram nesta lista de grandes investidores. A revista EXAME, num artigo no início deste ano, refere que entre as cerca de 40 empresas criadas em todo o País, mais de uma dezena de projetos estão ligados à canábis medicinal e supõem um investimento total de, pelo menos, €200 milhões, em particular nas regiões do Alentejo, Algarve, Centro e da península de Setúbal. 

Estamos a falar de um mercado de “peso”. Segundo o mesmo artigo, a Grand View Research estima “que o mercado mundial da canábis legal atinja €130 mil milhões até 2025, a maior fatia (€88 mil milhões) para uso medicinal, legalizado em 35 países ou territórios. Já a Arcview Market Research aponta para valores consideravelmente mais baixos: consumo legal em 2027 a valer €51 mil milhões e apenas um terço a vir do uso terapêutico.” 

Em Portugal, e ainda de acordo como a investigação da mesma revista, The European Cannabis Report, “aponta para um mercado potencial de €1 100 milhões em 2028, vindo a maioria desse valor (€600 milhões) do uso recreativo, ainda por legalizar. E avalia o mercado negro de canábis em Portugal em pelo menos €106 milhões por ano”.

Um grupo de origem canadiana esteve em negociações para instalar uma das maiores plantações mundiais de canábis para fins medicinais (261 hectares) em Benavente; no início deste mês a Câmara Municipal de Santarém aprovou também o mesmo pedido de ” inexistência de restrições para o cultivo de canábis para fins medicinais” em Cabeça Gorda, freguesia de Tremês e Azóia de Cima. Agora, segue-se Alpiarça.