Ponderação, muita ponderação e esperança!

Espanto, confusão, apreensão, reflexão, receio, expectativa… De novo, confusão e depois ponderação, muita ponderação e esperança! Foi assim o meu dia de ontem. Depois de um dia inteiro a olhar para esta desarrumação de dados adquiridos que se somaram aos últimos acontecimentos nos principais palcos políticos, pressenti um mundo diferente daquele em que cresci a acreditar como o correto e o certo. Assistimos a constantes transformações (boas e más), na nossa rua, no nosso país, nas pessoas que nos rodeiam, nas pessoas que lideram as instituições, nos valores… Parece que temos o mundo baralhado que não conseguimos acompanhar. Os líderes mundiais estão a perder credibilidade e respeito de um dia para o outro. Esta é, pois, a grande lição dos votos dos americanos. Ontem ganhou Donald Trump, o homem de 70 anos que soube atingir as pessoas que já não acreditam e estão saturadas de perder o que já haviam conquistado. Não ganhou Donald Trump, o homem bom e competente. Ganhou Donald Trump, o homem que soube explorar a fragilidade e a desilusão, ainda que pondo em causa os direitos iguais entre todos os humanos, que é o alicerce da liberdade, da justiça e da paz no Mundo. Foi também o homem que ganhou a Hillary Clinton, que sabia que ia ganhar, que é competente, coerente, experiente e que respeita a igualdade de direitos. Aquela que não conseguiu atender as pessoas que já não acreditam, que precisam de mudar e de sentir qualquer coisa que não o mesmo. Aquela que pertence ao partido que não lhes resolveu os problemas básicos. Trump conquistou a atenção, como nunca. Introduziu emoção, gritou, disse verdadeiros disparates, chocou o mundo, abanou pensamentos, desafiou preconceitos, disse que ia fazer acontecer alguma coisa de diferente. Introduziu a esperança de algo novo (mesmo que demagogicamente). Preencheu o espaço que alguém deixou esvaziar. Temos, por isso, o grande vencedor das eleições da América (e de outras na Europa, como o Brexit, Grécia, Portugal…): a perda da fé de uma classe média que perdeu a casa, o dinheiro para a educação dos filhos, saúde, uma reforma digna – e continua a perder. O que havemos de pensar, então? A linha que divide o certo e o errado, o real e o imaginário, o bem e o mal está muito delicada. Não a podemos deixar partir. Cabe a cada um de nós decidir. As eleições dos EUA confirmam que precisamos de acreditar. Precisamos da defesa dos valores da democracia, da importância do voto, da participação cívica, da liberdade, da tolerância e do entendimento. Estas são as grandes forças e alicerces do mundo, que importa lembrar todos os dias – mesmo o de ontem. É nisto que ainda acredito, pratico, VOTO e me faz ter esperança. São estas forças que devem continuar a ganhar todas as eleições do mundo. Sem espaço para mais nada.

Cláudia Rodrigues Coutinho