Quando há poucas semanas escrevi sobre a mais recente obra do regime, o Jardim Municipal, iniciei o meu próprio processo de reflexão sobre o impacto que este projecto terá no concelho. Rapidamente concluí que a par do embelezamento por via da demolição do casario em ruínas, criação de mais um café e pavimentação de grande parte daquele espaço, o único grande impacto seria mesmo o político. Qual é o político que não gosta de fazer uma inauguração para aparecer nos jornais a anunciar obra aos seus eleitores? Por isso não posso censurar a vaidade do actual executivo de querer ficar bonito neste último ano de mandato depois de 3 anos sem mexerem uma palha (vejam os cotos no largo dos “Águias”).
Sou crítico à forma da obra, não à obra em si. Mas o que há assim de tão errado nesta obra? Será a pegada ecológica, mais um café em concorrência ou a total ausência de identidade? A nada disto sou indiferente, mas o que me incomoda, revolta até, é a falta de visão e de amor-próprio deste executivo à sua terra.
É indiscutível que Alpiarça tem condições ímpares para atrair turistas e não tenho dúvidas de que o futuro deste concelho passará pelo desenvolvimento do turismo. Mas para que esse futuro chegue é imprescindível criar âncoras de atracção que tragam até nós mais turistas e investimento.
Já ouviu falar do efeito Guggenheim? Provavelmente não, mas passo a explicar. Bilbao até final do séc. XX era uma cidade bem-sucedida economicamente, mas fria e pouco interessante do ponto de vista cultural e turístico. Em 1992 a cidade recebeu possivelmente a obra mais relevante da sua história – o Museu Guggenheim Bilbao. A partir desse momento a cidade transformou-se, ocupou um lugar de destaque nas rotas turísticas internacionais e é hoje uma referência turística e cultural no país vizinho. Alpiarça precisa de criar o efeito “Guggenheim” para se afirmar como destino turístico. Temos recursos para isso, mas não temos as pessoas certas à frente da autarquia para tirar partido do que já existe e muito menos para criar factores de atracção turística.
O Jardim Municipal pela sua história e localização poderia ser uma nova âncora para o turismo em Alpiarça e passo a explicar como: Se ao invés de se transformar numa praça empedrada, se recriasse com esta obra um jardim temático do século XIX, com aspectos clássicos da época em linha com legado de José Relvas, talvez até inspirado no jardim do Príncipe Real em Lisboa ou até mesmo num jardim botânico com uma estufa de vidro ao centro, seria com certeza muito mais interessante para os alpiarcenses e visitantes do que a actual obra. No edifício histórico que faz esquina com a José Relvas, 64, poderíamos aspirar ver aí um hostal tirando partido não só do jardim mas também dos negócios que iriam surgir à sua volta.
Alpiarça mais uma vez assiste a obras desconexas, sem estratégia, sem visão, mas ancoradas numa agenda política. Há muito talento escondido no concelho, pessoas bem formadas com mestrados e doutoramentos em diversas áreas. É preciso dar-lhes voz e aprender com elas, para não se insistir nos mesmos erros do passado.
Paulo Sardinheiro
Deputado Assembleia Municipal – Movimento TPA