“Sou uma cidadã do mundo!” – e é assim que respondo quando me questionam sobre as minhas origens.
O meu pai foi militar e, em consequência da sua opção de vida, andei sempre de um lado para o outro. Por isso, sempre que começava a sentir-me integrada, partia! Contudo, sinto que essa constante mudança de sítios e todas as vivências que me foram proporcionadas, deram-me a oportunidade de ter contacto com culturas e povos muito heterogéneos, que me permitiram entender e aceitar o que para nós, por vezes, está para além do que é certo e do que é errado.
Perante esta forma de estar na vida, torna-se difícil criar referências e… sei que não as criei em lado algum! Desprendi-me, e tudo foi ficando onde tinha que ficar! Contudo, transportei comigo a sabedoria e a saudade desses lugares e dessas gentes! Depois, escolhi como profissão ser professora, e a itinerância teimou em continuar… até àquele ano em que a vida decidiu colocar-me aqui, no centro do Ribatejo, na vila de Alpiarça!
Senti Alpiarça como uma Terra de oportunidades!
Estávamos no século passado, em meados dos anos 80, e a Revolução de abril tinha acontecido há menos de 10 anos. Diz-nos a História que, quando uma revolução acontece, devemos esperar sempre cerca de 30 anos para que os objetivos e sonhos que a moveram se consolidem. Havia que ter esperança e sobretudo acreditar! Por isso, fui ficando…
Eu queria dar aos meus filhos aquilo que não tive… as tais referências… deixá-los acordar todos os dias com a certeza de estarem ali e sentirem que podiam ser parte integrante de uma terra que nos adotou! Hoje, questiono-me se fiz bem ou se fiz mal… não sei!! Sei que continuo em Alpiarça, mas não sinto esta Terra como aquela em que acreditei um dia para ficar! Ao fim de 30 anos, sinto-me dececionada e a minha maior deceção está nas gentes desta Terra! Acreditaram em promessas nunca cumpridas e aceitaram subjugarem-se ao que os limitou e à paragem no tempo, da sua própria TERRA. Por certo, disseram-lhes que quem governa à direita defende os interesses dos ricos e quem governa à esquerda defende os interesses dos pobres. Teorias apresentadas de uma forma tão simplista, que os convenceu a respeitá-las em todo o percurso de uma vida… das suas vidas!
Corria o ano de 2013… ano de eleições autárquicas! Um grupo de pessoas independentes quis proporcionar a Alpiarça a oportunidade da mudança – e o lema foi “Alpiarça Terra das Sensações”! Bastava, então, as gentes desta terra terem acreditado nesse grupo que quis trazer a mudança – o TPA … tornar Alpiarça na Terra que convida a ficar e a estar!
Mas… para a maioria das gentes desta Terra que sempre viveram aqui, que não conhecem o mundo além do lugar onde vivem, trabalham, criam os filhos… basta assim! Verem os filhos partirem não é drama porque a vida é deles! Fábricas fecham, comércio não existe, incentivos ao Turismo não são dados, em setor nenhum são criados postos de trabalho que convidem a ficar… 30 anos depois, em Alpiarça, tudo continua assim!
Filomena Rúbio – Eleita TPA
Assembleia de Freguesia de Alpiarça