Sónia Sanfona é a candidata do PS à Câmara Municipal de Alpiarça. Numa grande entrevista a O Alpiarcense, explica os motivos para a candidatura e os projetos que quer ver implementados na Vila. Critica ainda o atual executivo pela falta de ideias e desenvolvimento de Alpiarça.
Como surgiu a ideia de se candidatar a Presidente de Câmara?
Candidatar-me a presidente de câmara não foi propriamente uma ideia, foi mais um processo que foi sendo ponderado e refletido ao longo do tempo. Nasci em Alpiarça, aqui cresci e passei a minha adolescência, aqui estudei até ao 9º ano (o último que havia) e para aqui voltei depois de concluir a minha formação. Foi em Alpiarça que constituí a minha família e é aqui que vivo. A minha ligação à minha terra e às minhas raízes nunca se perdeu, tem, aliás, sido sempre um fator determinante nas minhas escolhas e nas minhas decisões. De resto, sinto que ao longo dos anos tenho acumulado um conjunto de experiências e conhecimentos que posso e devo colocar ao serviço da minha terra, contribuindo para o seu desenvolvimento e para a melhoria da qualidade de vida de todos quantos escolheram aqui viver, estudar e/ou trabalhar. Foi essa consciência e o amor à minha terra que determinaram a minha candidatura. Sinto que posso fazer melhor.
Depois da derrota em 2009, espera melhores resultados para estas Autárquicas?
É evidente que ao apresentar-me como candidata aos alpiarcenses, o faço com a esperança de que possa merecer a sua confiança. Candidato-me com uma equipa e um projeto que julgo ser o melhor para a minha terra, o mais inovador, o mais capaz de ultrapassar dificuldades e criar oportunidades. A vida é mesmo assim, feita de processos, de momentos e de escolhas. Vencendo as eleições, terei a oportunidade de mostrar que o projeto que lidero é o que melhor serve os interesses de Alpiarça e dos alpiarcenses. É a isso que aspiro e que procurarei mostrar durante a campanha eleitoral.
Como estão a correr os preparativos para a Campanha Eleitoral?
Estão a correr muito bem, com entusiasmo e envolvimento de todos. A construção de um projeto autárquico pressupõe muito trabalho, sobretudo trabalho de equipa, e esta equipa de pessoas que me acompanha nesta candidatura tem sido verdadeiramente inexcedível na sua dedicação e na sua entrega. Um sinal evidente foi a apresentação, logo numa fase inicial da pré-campanha, de todos os 66 candidatos aos três órgãos do município. Tem sido assim desde o início, disponibilidade, envolvimento e trabalho.
Que ações de campanha eleitoral os eleitores podem esperar?
Os alpiarcenses podem esperar uma campanha próxima, próxima das pessoas, procurando encontrar soluções para os seus problemas. Temos uma campanha no espaço digital onde vamos dando conta das nossas atividades e das nossas propostas e teremos uma campanha junto das pessoas, na rua, no contacto pessoal, onde efetivamente se percecionam os problemas e onde, na partilha de ideias, se encontram as melhores soluções. Além disso, teremos algumas actividades temáticas, de debate de ideias sobre assuntos concretos que, pela sua importância para o concelho, serão tratados com maior atenção. Teremos ainda uma ronda de conversas com as associações e as forças vivas do concelho, onde procuraremos reforçar o conhecimento das suas atividades e dos constrangimentos que enfrentam, de modo a melhor prepararmos a nossa proposta eleitoral.
Como chegou aos nomes que compõem a sua lista de candidatos ao Executivo?
Como lhe disse no início desta nossa conversa, a minha ligação à minha terra não é de circunstância. Vivo aqui, conheço as pessoas e parte delas são também parte do meu percurso de vida. Procurei, neste processo de formação de uma lista de candidatos, convidar as pessoas que entendi reunirem as melhores condições para servir os alpiarcenses e que se identificassem com o projeto que lhes propus. São pessoas com um percurso de vida ligado a Alpiarça e reconhecidos pelos nossos conterrâneos. Algumas já deram o seu contributo noutras fases da nossa vida coletiva e têm provas dadas ao serviço da causa pública. A sua vida e o seu trabalho falam por si. Outras estão numa candidatura autárquica pela primeira vez mas julgo que é evidente a sua capacidade, a sua determinação e a sua dedicação que colocam, aliás, também na sua vida profissional e pessoal. Com maior ou menor experiência na gestão da coisa pública, uma coisa partilham entre todos: o amor por Alpiarça e uma vontade férrea de dar o seu melhor para a desenvolver.
A “super coligação” com os partidos da Direita foi tida em conta ou descartada logo à partida?
É sabido que houve conversações. O diálogo democrático é natural e desejável.
Os problemas internos que surgiram há quatro anos estão resolvidos ou continua a existir um PS fraturado em Alpiarça?
O PS é um grande partido. É, aliás, o grande partido da liberdade e da democracia. As divergências que, pontualmente, existam, são sinal de que essa democracia interna está viva e recomenda-se. O que lhe garanto é que o partido socialista em Alpiarça está mobilizado e motivado para apresentar uma proposta autárquica aos alpiarcenses que mereça o seu voto e trabalhará arduamente para a concretizar, a bem da nossa terra.
Que áreas acha que estão carentes de intervenção camarária em Alpiarça?
Acho que Alpiarça está profundamente carente de uma estratégia de desenvolvimento, transversal a todas as áreas e que permita traçar um rumo para o futuro. O que há é um conjunto de medidas avulsas, sem conexão, sem preparação e que verdadeiramente não contribuem, por si só, para um concelho mais desenvolvido e capaz de responder aos anseios das pessoas. Quero, contudo, destacar algumas áreas que julgo centrais para esse objetivo.
A área da educação – a criação de um projeto educativo municipal onde se possa elencar um conjunto de eixos estratégicos de oferta aos nossos jovens estudantes e de escolhas a adotar pelo agrupamento de escolas que ajude a direcionar projetos de vida e, simultaneamente, crie oferta profissional em determinadas áreas:
A área da cultura – com a dinamização de um projeto cultural de largo espetro, que possa congregar as várias potencialidades do concelho, afirmando a centralidade da Casa dos Patudos, museu de Alpiarça, e agregando outras valências como a arqueologia, a etnografia, a história da resistência anti-fascista e da república e as artes em geral.
A Área da agricultura e indústria – com a revitalização e desenvolvimento da zona industrial, fixando novas empresas e disciplinando a sua ocupação. Garantir o seu crescimento e infraestruturação de modo a atrair investimento privado dinamizador da economia. Privilegiar a agroindústria e as novas tecnologias.
A área do Turismo e do Ambiente – Criando um circuito que gere interesse dos mais variados públicos alvo, em torno da diversidade do nosso património e da sua exclusividade em termos regionais – passa pelo desenvolvimento de projetos, como conseguir a construção do hotel, recuperar ambientalmente a Albufeira dos Patudos e toda a sua envolvente, melhorar as condições e dinamizar um projeto de turismo da natureza que envolva o parque de campismo, a reserva natural do Cavalo do Sorraia, o paúl da Gouxa, o Patacão, a Vala Real, só para mencionar algum do nosso património mais emblemático. O nosso programa eleitoral apresentará uma visão global para esta área.
A Área da desburocratização e simplificação administrativa – que permitirá facilitar a relação entre a autarquia, os munícipes e os investidores.
A Área da gestão urbana, da limpeza e da conservação do património – está à vista o abandono, a falta de cuidado e de brio com que esta área tem contado por parte deste executivo. Uma mudança nas prioridades é urgente.
Que estratégias pensa utilizar para gerir o buraco orçamental que existe nas contas da Câmara Municipal de Alpiarça?
É o senhor que me está a dizer que há um buraco orçamental na CMA, contrariando, aliás, o Sr. Presidente da Câmara. É evidente que o primeiro passo será aferir o verdadeiro estado financeiro do município, já que os documentos de prestação de contas evidenciam um aumento dos empréstimos de curto prazo e algumas incongruências nos números. Para mim, a principal questão no que toca às finanças autárquicas prende-se com a incapacidade deste executivo de sair do circulo das transferências do estado central como único meio de sobrevivência e procurar investimento. É necessário ser criativo, criar dinâmicas que atraiam investidores, ao invés de os afastar criando dificuldades. Os fundos comunitários continuam a ser a melhor forma de viabilizar projectos e criar condições para a dinamização da economia local. O que não podemos é desperdiçar sistematicamente oportunidades nem arranjar sempre desculpas para não fazer, ou para não fazer melhor. O programa eleitoral que apresentarei assenta num estudo criterioso das finanças do município e congrega um conjunto de outras estratégias de criação de riqueza que permitirão concretizar as nossas propostas. Contando, evidentemente, com os constrangimentos do quadro comunitário, na parte em que não dependa de nós, da nossa eficácia, competência ou oportunidade.
Um dos grandes problemas que Alpiarça enfrenta, prende-se com questões ambientais, nomeadamente com a contaminação das águas da Albufeira dos Patudos. Tem em vista medidas para a resolução deste problema?
É evidente que temos uma proposta para a questão da Albufeira dos Patudos. Este é um assunto que carece de estudo e preparação e não de opiniões avulsas sem o mínimo de credibilidade. Consultámos várias entidades conhecedoras, a começar pelo LNEC, tendo formado, com base nos seus pareceres, uma opinião e, consequentemente, uma proposta de solução que seja economicamente mais interessante e que tenha o menor impacto na possibilidade de fruição daquela infraestrutura. O que não faremos é continuar a gastar dinheiro em medidas meramente paliativas e que não resolvem a questão de fundo. E posso garantir que defenderemos intransigentemente os interesses de Alpiarça, em quaisquer circunstâncias. O programa eleitoral tratará este assunto de forma mais detalhada.
Como candidata, terá uma visão sobre a sua terra. Neste momento, como vê o futuro de Alpiarça?
Sou uma pessoa positiva, acredito num futuro próspero para a minha terra, e estou convicta que temos tudo o que necessitamos para garantir esse futuro, mas não me iludo. Se não houver uma mudança na liderança do nosso município, esse futuro não chegará. Um futuro promissor garante-se com trabalho, com competência e com uma estratégia bem definida. Julgo que no caminho em que vamos não chegaremos lá. “ Nenhum vento ajuda quem não sabe para onde vai” dizia Séneca. Acho que é assim que estamos: sem rumo, sem ambição, sem propósito. O que ambiciono para Alpiarça é que possa afirmar-se como uma vila com uma identidade própria, limpa, cuidada, aprazível para os seus habitantes e para os seus visitantes, que preserva o seu património e se orgulha dele, divulgando-o e garantindo a sua fruição, uma vila que se desenvolva economicamente, onde os jovens possam desenvolver os seus projetos de vida, constituir as suas famílias e assegurar o seu futuro profissional, onde os mais idosos possam sentir-se acompanhados e recebam os cuidados que necessitam, onde haja solidariedade intergeracional e para com a comunidade.
O que se pode fazer para o alterar?
Só depende de nós. Nós somos os construtores do nosso futuro. Espero que os alpiarcenses me dêem a oportunidade de trabalhar para alterar este caminho que hoje seguimos e garantir um futuro melhor para todos.