Imagem Aérea da Albufeira dos Patudos mostra impacto ambiental da ação Humana

Um alpiarcense resolve sobrevoar área da Barragem dos Patudos e capta imagem do estado ambiental em que se encontram as águas da albufeira.

Manchas castanhas e frequentemente peixes mortos nas margens são o retrato ambiental do impacto humano nesta albufeira. A eutrofização  natural e artificial da água ou a prática da pesca com fraca regulamentação são as causas mais apontadas para a situação ambiental crítica em que se encontra a albufeira. Mas são as descargas efetuadas por uma empresa que preocupam a comunidade.

Desde há algum tempo que a água da barragem não tem oxigenação suficiente que permita fazer face à presença excessiva de nutrientes ( essencialmente de fosfatos e nitratos). Durante algum tempo, a Câmara usou água de um furo para renovar as águas da albufeira, ato este não regulamentar, mas uma queixa na APA (Agência Portuguesa do Ambiente) acabou com essa possibilidade, segundo declarações do presidente da Câmara Municipal de Alpiarça, Mário Pereira. Resta agora os repuxos que permitem a circulação de oxigénio.

A eutrofização artificial também é um outro problema a juntar: a acumulação de nutrientes também são provocados por descargas ilegais. E a população culpa as “Águas do Ribatejo”. Com a inauguração em fevereiro de 2013 da Estação de Captação, filtragem e tratamento da água junto à Barragem, quando se verificam a lavagem dos filtros, a água junto à barragem fica castanha, cor que o presidente da autarquia já atribuiu numa reunião de câmara em novembro de 2016, à presença de arsénio e manganês. As descargas têm suscitado muita polémica. Pelo artº 60º da Lei da Água (Lei nº58/2005), todas as entidades que fazem descargas para meio hídrico, que possam por em causa a sobrevivência desses recursos, são obrigadas a possuir licença prévia ambiental, emitida pela APA – Agência Portuguesa do Ambiente, sendo notificadas pela omissão, sobre processo contraordenacional pela grave infração.

água contaminada proveniente de descargas

 

A utilização da albufeira também tem culpa neste cartório de impacto ambiental. A pesca, que para algumas vozes da comunidade alpiarcense é também responsável por esta situação, é para a APA uma consequência e não uma causa, segundo o relatório da APA sobre gestão hídrica nesta região do Tejo de 2014: ” As albufeiras apresentam geralmente interesse para a pesca desportiva. Um dos efeitos indiretos passíveis de ser causado pela pesca desportiva em albufeiras está relacionado com o aumento da carga piscícola nas massas de água, resultante de ações de repovoamento realizadas de forma desregulada. Embora as cargas piscícolas em meio dulçaquícola possam contribuir para a promoção de fenómenos de eutrofização, nomeadamente através da ressuspensão de nutrientes contidos nos sedimentos ou através dos seus efeitos na cadeia trófica (e.g. reduzindo as espécies zooplanctónicas de maior dimensão) e estejam estabelecidas ações de gestão que, através da redução forçada dessas cargas, pretendem melhorar a qualidade da água, são sobretudo uma consequência dos níveis de nutrientes existentes na massa de água e não a sua causa. Consequentemente, a resolução dos problemas associados às elevadas cargas piscícolas – para as quais contribuem para além dos níveis de nutrientes, os elevados períodos de crescimento da biomassa de grande parte das massas de água portuguesas, que resultam das elevadas temperaturas da água e da estrutura trófica simplificada das associações piscícolas, sem predadores naturais – passa, obrigatoriamente pela redução desses níveis“.

Este assunto já foi a discussão, por várias vezes, em reuniões de câmara. O presidente da autarquia tem removido os peixes mortos nas margens e tem agendado um encontro no Ministério do Ambiente para se discutir tanto a questão da Barragem como a dos diques. Sem dinheiro para uma limpeza profunda da Barragem, a autarquia necessita de um enquadramento num plano económico, ou fundos ou cooperação com o ministério, que não existe até ao momento. Segundo declarações do presidente da autarquia, a eutrofização não está resolvida mas o tratamento microbacteriano  da água da albufeira está ser executado.

Peixes mortos nas margens

A Câmara de Alpiarça já tinha, recentemente, referenciado à APA alguns destes problemas ambientais como aparece descrito no último relatório do Plano de Gestão de Recurso Hídricos e que citamos: Refere alguns problemas relacionados com os recursos hídricos no município (Canal de Alpiarça, Albufeira dos Patudos; captações subterrâneas) e pede que sejam contempladas medidas específicas para as situações:- Minimização de alterações hidromorfológicas – limpeza e manutenção do canal e albufeira; – controlo de espécies exóticas e pragas – plano de ação para várias espécies exóticas;  – Promoção da sustentabilidade das captações de água – criação de um canal de ligação entre o Tejo e o Canal de Alpiarça”.

Relativamente à pesca, nenhum vereador assumiu posições “contra” a prática desta modalidade desportiva. O consenso determinou que há necessidade de uma nova regulamentação, mais amiga do ambiente e que, como sugeriu o vereador António Moreira possa introduzir o modelo de caução que seria devolvida após a verificação do cumprimento dos novos regulamentos. Os vereadores Carlos Jorge e Sónia Sanfona falaram em “vontade política”, vontade política em permitir uma calendarização das provas de pesca mais espaçadas.

Agora com o problema da Vala a ver luz ao fundo do túnel com a aprovação do Projecto de Reabilitação através do Fundo de Proteção dos Recursos Hídricos no valor de 182.278,25€, a autarquia vê-se a braços com outros dois temas ambientais de recursos hídricos em alta pressão: a barragem e os diques.