Fundos da UE – Uma reflexão

Ninguém duvida que os Fundos Europeus, nestes trinta anos, mudaram o país.Estava tudo por fazer: saneamento, caminhos, abastecimento de água, edifícios escolares, etc. etc. etc.

E agora? Agora fica-nos a sensação que se andam a inventar obras. A convencer as pessoas de que são obras muito importantes, que com elas o concelho, seja ele qual for, fica mais parecido com a cidade. Será mesmo?Com elas o concelho fica … na mesma. Mais uns sacos de cimento, mais uns tijolos e uns quilos de ferro, não são capazes de parar o envelhecimento de algumas terras do interior.

Quando uma Câmara se candidata a um qualquer programa comunitário para uma qualquer Grande Obra, sempre grandiosas ou a tal promovidas, ninguém questiona que benefícios daí advêm para o desenvolvimento do concelho, para o futuro dos jovens, que ali não vão ter futuro. Normalmente, o primeiro beneficiado com a Grande Obra é a força política que se candidata ao programa de onde vem parte do dinheiro. É importante que seja a mesma que depois faz uma festa no início da obra. A mesma que depois faz a grande festa para inauguração da Grande Obra. A vitória nas próximas eleições fica garantida.
O projecto foi aprovado. Dos quinhentos mil euros da obra os munícipes só pagam cem mil. Uma pechincha emoldurada com um grande sorriso e uma postura fotográfica de grande político.

A empresa de construção que ganhou o concurso é de, sabe-se lá de onde. Vem com o seu equipamento, o seu pessoal e os seus materiais.

Os construtores civis, os pedreiros, os canalizadores e os ladrilhadores da terra, passam, olham os trabalhos, deixam uma ou outra crítica e lá seguem a caminho do centro de emprego tratar do desemprego.
Os comerciantes dos pregos, do cimento, dos tijolos e sei lá de que mais, continuam  debruçados no balcão, a pensar quando hão-de fechar, se em Julho ou se no fim do ano.

E a obra prossegue.

Um belo dia a Grande Obra acaba e é inaugurada. Grandes e inflamados discursos, e uma festa de arromba, que as eleições estão próximas. Durante um par de horas o povo diverte-se.

Depois, só resta apanhar as canas, os copos de plástico vazios que já estiveram cheios de vinho. Por último recolhem-se as brasas que assaram as febras. Durante uns dias as camionetas de excursões de todas as ARPIC´s, convidadas a virem ver a Grande Obra, não param de chegar. Partem logo depois de comerem a bucha que trouxeram.

Mas … que ficou na terra, além de uma construção de urgência duvidosa? O mesmo desemprego, o mesmo comércio a fechar, o mesmo abandono em direcção ás terras de onde vêm as empresas que constroem as Grandes Obras

Imaginemos agora que, com os cem mil euros, que foi a comparticipação dos contribuintes na Grande Obra, a Câmara se propunha a fazer aquelas pequenas obras, que toda a gente sabe quais são, que não enchem o olho, mas que são estruturantes. A Câmara podia fazer, nem que fosse por fases, “ajuste directo” com os construtores civis do concelho. Os pedreiros, os canalizadores e os ladrilhadores da terra teriam trabalho. As lojas de materiais de construção teriam clientes, o comércio receberia o alento de que está à espera, as pessoas iriam por cá ficando, em vez de irem para a terra do construtor da Grande Obra. Em suma, a terra entrava numa rampa de crescimento e a Autarquia receberia mais impostos e taxas. E iria ficando com recursos para fazer mais. Para crescer mais. Pois, … … mas … … e as eleições daqui a 3 anos e picos?

 

Armindo Batata – Muda Alpiarça