Paulo tinha o desejo de trocar de carro, queria comprar um veículo mais vistoso, mas teria de vender primeiro o carro que havia acabado de pagar. Decidiu, então, colocá-lo à venda numa página da internet especializada nesse tipo de vendas.
Sentado ao computador, tratou de fazer o anúncio, colocando como valor de venda 3.500,00 euros. Ilustrou o anúncio com fotos do seu carro e características do mesmo, deixando o seu contacto telefónico.
Na quinta feira seguinte, Paulo é contactado por um suposto comprador, primeiro por mensagem associada ao anúncio e depois para o seu telemóvel. Ficou entusiasmado: o desejo de trocar de carro estava próximo.
Na troca de mensagens entre ambos ficou acordado mostrar o carro no dia seguinte, pela hora de almoço, já que o possível comprador, apresentando-se com o nome de Emílio, dizia ser de longe e só à hora de almoço podia chegar ao local combinado. Acordo acordado, mas não confirmado.
Na sexta feira seguinte, já passava das 15h00 e o presumível comprador não dava ares da sua graça, pelo que o Paulo enviou uma mensagem para o número que havia sido usado para combinar o encontro. Questionava-o sobre a demora e recebia como resposta a informação de que estava a chegar.
Paulo tinha o pensamento no carro que iria adquirir; com a ajuda do valor recebido pela venda do seu carro poderia fazer uma compra mais folgada. Não imaginava que o dia (sexta feira) e a hora tinham o propósito de o fazer cair numa “armadilha”.
Emílio, homem para os 40 anos de idade, pele morena e bem-apresentado, cumprimentou-o. O homem fazia-se acompanhar por outro indivíduo, não lhe fixou grandes pormenores, o seu foco estava no comprador e na venda do carro, por isso era importante que lhe mostrasse as potencialidades do mesmo.
Após uma vistoria ao carro, Emílio aceitou ficar com ele pelo valor solicitado. Prontificou-se a irem ao Banco tratar de levantar o dinheiro para pagamento, contudo, surgiu um problema, já eram 15h50 e os bancos já se encontravam fechados. O negociante sugeriu dirigir-se a uma caixa de multibanco e fazer a transferência do valor do negócio.
Paulo aceitou, pelo que ambos foram à caixa multibanco mais próxima. No trajeto, o sujeito questionou-o sobre qual era o seu banco e Paulo informou-o de que se tratava do banco Y. Emílio, já preparado para o último golpe de teatro, disse que era pena, já que trabalhava com o banco X, e que o valor só ia estar disponível após 3 dias. Sem que o Paulo tivesse tempo de raciocinar, a criatura pediu-lhe que lhe desse o NIB e ele, vendo que estava quase a fechar o negócio, não hesitou e deu-lhe.
Emílio fez a transferência do valor acordado e deu o talão de transferência ao Paulo, solicitando os documentos do veículo e o documento de compra e venda, devidamente assinado.
Após essa troca (talão de transferência por documentos do carro), o sujeito conduziu o carro que acabava de ser vendido. O terceiro indivíduo já não se encontrava junto do carro, provavelmente seria condutor do veículo em que Emílio se fazia transportar e abandonara o local. Passou o dia de segunda feira e o Paulo não estranhou o facto de não ter os 3.500 euros na sua conta, assim como na terça e na quarta feira. Após consultar o saldo da sua conta, dirigiu-se ao balcão do banco do comprador e questionou o funcionário sobre a razão pela qual o dinheiro daquela transferência ainda não constava na sua conta. Ficou a saber que não constava nem iria constar, uma vez que a conta indicada no talão estava sem dinheiro. Inicialmente, Paulo tentou contacto com o Emílio, mas como a mensagem que ouvia do outro lado era de que o número não estava atribuído, dirigiu-se ao Posto Policial da sua localidade, onde apresentou denúncia. Ficou a saber que o veículo já se encontrava registado no nome de outra pessoa e com data de segunda feira.
O facto de ser emitido um talão de transferência interbancária não quer dizer que a conta do comprador tenha saldo. Não é inocente a escolha da sexta feira e o horário em que os balcões estão fechados, bem como a situação de entidades bancárias diferentes, já que, se fosse transferência entre contas no mesmo banco, supostamente haveria a informação de que a conta do comprador não teria saldo.
Autor: Ónesto