No dia 1 de setembro de 2016, Gonçalo Neves e os pais, Sandra Martins e Óscar Neves, assinalaram uma data que desejavam nunca ter constado das suas memórias: o acidente de viação brutal que há cinco anos deixou Gonçalo em estado vegetativo.
Fascinado pela vida militar desde petiz, quando participava nas Semanas Militares da Escola Prática de Cavalaria de Santarém, Gonçalo, também conhecido na vila por Tofu, ingressou como voluntário no Exército Português em Abril de 2011 e já tinha traçado para o seu futuro fazer ali carreira como militar. Foi na chuvosa noite de 1 de setembro de 2011, durante a sua folga, que Gonçalo e um seu amigo decidiram ir ao Cartaxo. Quando regressavam, por volta da 01h00 da madrugada, os jovens terão suspendido a marcha do veículo junto a uma paragem de autocarro, por motivo desconhecido. Foi nesta estrada, Nacional 3 de Vila Chã de Ourique, que foram surpreendidos e abalroados por um camião. À parte o condutor do pesado, não houve testemunhas viáveis do acidente; Gonçalo sofreu um traumatismo cranioencefálico, para além das várias lesões e fraturas em todo o corpo; já o seu amigo, que apenas sofreu uma fratura num dedo, não tem memória dos acontecimentos imediatamente antes e depois do desastre.
Os anos passam a conta gotas no que diz respeito à recuperação de Tofu, e para estes pais qualquer sinal de movimento, de clareza, de expressão facial ou emoção, por mais pequenos que sejam, são uma vitória, uma alegria com sabor amargo, porque o filho que recordam antes do pesadelo “era tão enérgico, forte e saudável” que levou dias, semanas mesmo, até que Sandra Neves conseguisse aceitar que aquele pesadelo era a aterradora nova realidade da sua família. Não fosse este tormento dor suficiente, há um processo no Tribunal do Cartaxo, instaurado pelos pais do Gonçalo contra o condutor envolvido e a empresa que este representava na altura do acidente que se arrasta há cinco anos e vê a sua data adiada várias vezes só este ano, devido a erros burocráticos que Sandra e Óscar consideram inadmissíveis – “Como é que é possível? Nem sequer o início do julgamento ainda aconteceu, (…) estamos à espera da quarta data do julgamento”.
Os pais do Gonçalo reconhecem que se não tivessem movido “mundos e fundos”, apenas o pouco apoio que o Estado prestou quando Gonçalo permaneceu um mês na Unidade de Cuidados Continuados de Alcoitão não teria sido suficiente, chegando estes mesmo a afirmar
que, a ter lá continuado, o seu filho teria o mesmo destino fatídico que outros internados naquela unidade já tiveram. Só os dispendiosos tratamentos revolucionários numa clínica em Espanha, onde Gonçalo e os pais passam a maior parte do ano, têm mostrado resultados positivos na mobilidade de Tofu. No entanto, o dinheiro escasseia, e nem os concertos e eventos solidários podem financiar os tratamentos de cerca de 6 mil euros por mês, durante mais tempo.
Ainda que a justiça e a indemnização cheguem, para Sandra Martins “já vai chegar tarde demais” no que diz respeito à ajuda na recuperação do filho.