A Requalificação do Mercado Municipal de Alpiarça é um projeto que, dizem os vendedores, “é urgente para ver se o espaço ganha vida”. Um projeto que tem andado de orçamento em orçamento municipal devido, diz a autarquia, às dificuldades financeiras do município e também ao próprio processo de candidaturas a fundos europeus.
Em julho de 2017, a autarquia lançou uma candidatura para a concretização deste projeto, com co-financiamento a 85% de fundos comunitários, no valor de 450 mil euros (através do financiamento do POR Alentejo 2020, no âmbito do PARU – Programa de Regeneração Urbana). Depois do concurso para adjudicação da empreitada ter ficado deserto, a autarquia foi obrigada a contactar diretamente três empresários para formularem as suas propostas, dentro dos mesmos valores atribuídos pela candidatura. Só foi apresentada uma proposta, a da Miraterra, a mesma empresa responsável pelo requalificação do Jardim Municipal.

Na manhã do passado dia 22, Mário Pereira, presidente da autarquia, teve uma reunião com o presidente da CCDR-Alentejo “para discutir o reforço das verbas dos fundos estruturais para uma eventual segunda fase da operação de Requalificação do Mercado Municipal de Alpiarça e do espaço urbano adjacente — ruas e zonas de circulação” – pode ler-se numa publicação que efetuou nas redes sociais. Refere-se concretamente à reabilitação de uma parte do Largo Dr. António José Simões.
Presentes na reunião que a Câmara Municipal convocou para a última terça-feira, dia 21de maio, os vendedores ficaram a par das intervenções no mercado e discutiram algumas soluções para “não ficarem a perder” durante a realização dos trabalhos.

O Sr. Neves está há 30 anos a trabalhar no mercado. Tem o Calhambeque, o café, e uma banca de velharias que, diz, “vende e dá movimento ao mercado”. “Deram-nos opções de encerrar ou passar para as lojas laterais, uma vez que “o miolo” vai ser mexido. E nós não podemos deixar de trabalhar, porque se o fizermos, perdemos tudo porque as pessoas vão perder o hábito de aqui vir. Sabemos que não vai ser fácil mas é para o bem de todos. E já pedimos estas obras há muito tempo!”
Com uma série de espaços alugados no piso superior, o Sr. Neves ainda referiu que vai haver uma “empresa especializada para substituir a parte do telhado que não é de zinco”. Já começou a mudar a banca do interior para os espaços laterais. “Agora, o importante é “o depois”! Isto não pode morrer. Deviam pôr lá fora, por exemplo, uma sinalização a indicar o mercado. Eu aqui há uns anos pedi na câmara (eu pagava o que fosse preciso) para por um sinal a indicar que se vendiam velharias… mas até hoje não tive resposta! Isto noutros tempos, as pessoas acotovelam-se por aqui! Agora veja! Bem sei que as pessoas mudaram de vida e as grandes superfícies ganham tudo mas se puxarem as pessoas para aqui… Porque não põem aqui os CTT?”

A mesma preocupação sente a Dª Carolina, a mais antiga vendedora do mercado – 55 anos a vender peixe. Com os seus 82 anos muito bem “ativos”, diz que já não faz questão de ficar por ali muito tempo porque já lhe chega de uma vida de trabalho mas que o mercado é do povo e tem que voltar a ter vida. ” Isto já teve muito movimento. Mas agora é isto que se vê. Mas a culpa é da população que não vem. Eles fazem uma festa grande aqui no final do ano. Mas é preciso chamar as pessoas para o mercado durante o resto do ano. Fica bonito, chama pessoas mas é preciso mais! Se não, morre…!”
As obras vão ter início no próximo dia 11 de junho e terão uma duração de 6 meses. Os vendedores questionados pelo Alpiarcense disseram que a Câmara falou em iniciativas para dinamizar este espaço. Na reunião de 12 de abril da Assembleia Municipal o presidente da autarquia referiu que estão pensadas para o mercado uma série de iniciativas do âmbito cultural, havendo a possibilidade de se utilizar as galerias (que serão também recuperadas) como “startups”. Para os vendedores resta esperar que, quem de direito, não esqueça “o depois”.