Atenta à realidade do dia a dia na minha terra, vou procurando traços de coerência na sua gestão, de orientação estratégica, de planeamento na atuação do município. Teimosamente, estes insistem em não se mostrar (se é que existem mesmo). São antes substituídos por uma clara deriva, um evidente desnorte, um planeamento casuístico e desgarrado. Consigo ainda surpreender-me com a incoerência entre palavras e atos que vai descredibilizando toda a ação deste executivo camarário. Na verdade, se, por um lado, vou assistindo ao desfile de atividades e medidas de natureza puramente eleitoralista, também estas, diga-se em abono da verdade, deficientemente planeadas, excessivamente caras ou, algumas até, mal executadas, por outro lado, sou confrontada com as más notícias que se vão revelando e que são verdadeiramente preocupantes já que comprometem o futuro do meu concelho e o bem-estar da sua população. Este ano eleitoral, ao fim de quase 8 anos de mandato sem projetos estruturantes, diria mesmo em que quase nada se fez para além dos lamentos e tradicionais desculpas, trouxe-nos, mercê de mais um empréstimo de curto prazo no montante de 700.000 €, um conjunto de projectos e medidas que, visando a conquista do voto enchendo o olho às pessoas, importa questionar: Será aceitável que, à semelhança do que foi feito nos arranjos exteriores da Casa dos Patudos, se descaracterize completamente um espaço público como o Jardim Municipal, retirando-lhe as características de um jardim e, sobretudo, de um jardim inserido num concelho de características rurais e com uma identidade própria que nada tem a ver com os novo-riquismos arquitetónicos adotados? Será aceitável um projeto de recuperação do mercado municipal que não apresenta uma perspetiva global de atividade e desenvolvimento para aquele equipamento em concreto, correndo o risco de criar mais um mono, sorvedouro de despesas de manutenção e sem qualquer retorno económico? (Não questiono a opção arquitetónica, mas toda a falta de estratégia para a dinamização do espaço – veja-se a questão do estacionamento que é apontado para a zona contígua à igreja, onde se realiza o mercado semanal). Será aceitável a despesa assumida com espetáculos para a Alpiagra e a opção de descaracterização e esvaziamento daquele certame, que não tem sido mais do que uma espaço de feirantes, por oposição a um certame agrícola e comercial de projeção do concelho e da sua realidade económica, social e cultural? Será aceitável a despesa efetuada com o pretenso asfaltamento de um conjunto de ruas da vila, usando um produto de inferior qualidade, que não resolve os problemas de desgaste do piso, não passando de uma operação de cosmética, e, ainda por cima, com o resultado que está à vista? Será aceitável a ordem de prioridades estabelecida pelo executivo camarário relativamente aos problemas com que estamos confrontados, designadamente, o problema ambiental da Barragem dos Patudos, para o qual tem sido aplicados paliativos, sem haver capacidade para resolver o problema de fundo que compromete, não só a imagem do concelho mas também a sua viabilidade económica? Podia citar um conjunto ainda mais vasto de exemplos, que vão desde as contas e situação financeira da autarquia, às questões da higiene, limpeza e manutenção do concelho que considero inaceitáveis e que comprometem o nosso futuro coletivo, ou algumas das más notícias com que vamos sendo brindados, como sejam o encerramento do balcão dos CTT, as dificuldades de instalação de empresas na zona industrial, o atentado ambiental na Vala Real, entre outras. Não posso, como se compreende, conformar-me! Não me resigno perante esta realidade e acredito que os alpiarcenses, que gostam e se preocupam com o seu concelho, que aqui vivem e trabalham, também o não façam.
Sónia Sanfona PS Alpiarça