“É reduzido o número daqueles que vêem com os seus próprios olhos e sentem com o próprio coração. Mas da sua força dependerá que os homens tendam ou não a cair no estado amorfo para onde parece caminhar hoje uma multidão cega.
Quem dera que os povos vissem a tempo, quanto terão de sacrificar da sua liberdade para escapar à luta de todos contra todos!” Albert Einstein É verdade que termos como liberdade e democracia são frequentemente usados como se de palavras banais se tratasse, desprovidas de uma dimensão profunda, que, mais do que compreendida na sua exacta componente teórica, falha no entendimento essencial de que as mesmas apenas se realizam, verdadeiramente,na sua componente prática. Quero, com isto, dizer, que todos nós, no nosso dia-a-dia, vamos tomando como garantidas a liberdade e a democracia, desvalorizando o risco que correm os valores e prerrogativas que conquistámos com ambas. Como se não tivéssemos que as exercer, diariamente, mas apenas afirmar, para que elas existissem e se impusessem. Não é assim, nem na nossa vida pessoal ou profissional, nem na nossa vida pública, ou política. Não é porque se apregoam mais ou menos vezes, com voz mais ou menos alta, que conseguimos que se cumpram. De resto, estou até convencida que a crescente necessidade que alguns sentem em as afirmar, resulta exactamente de tão poucas vezes as exercitarem.
Efectivamente, palavras como liberdade e democracia são, hoje em dia, frequentemente usadas para, sob o manto da sua protecção, se cometerem injustiças e abusos que são a exacta negação das mesmas. Aproximando-se um período de contenda eleitoral, todos parecem antecipar que, uma vez mais, a coberto destas duas palavras mágicas, se ofenda, se denigra, se caluniem os adversários. “Eu sou livre de dizer o que quero”, “ Vivemos em liberdade”, “Isto é uma democracia, as pessoas podem dar a sua opinião” são frases que, desde já, são frequentes na boca das pessoas ou nos seus escritos nas redes sociais, nos órgãos de comunicação ou nas suas conversas públicas. E não haveria nisso qualquer mal, se ao dizerem o que entendem, ao darem a sua opinião, o fizessem respeitando a sua e a liberdade dos outros. Se o fizessem apresentando a sua visão crítica, os seus argumentos, se dirigissem as suas considerações para os actos, as opções, as acções de quem pretendem visar e não para as pessoas, a sua personalidade, o seu caracter. Como sabem a maioria dos alpiarcenses, tenho desempenhado actividade política desde 2001, altura em que fui membro da Assembleia Municipal de Alpiarça e, desde então, já exerci funções de vereadora, na oposição, deputada à Assembleia da República e Governadora Civil do Distrito de Santarém. Nunca, em todos estes anos e nas mais variadas funções, fiz política atacando os meus adversários pessoalmente.
Sempre fui frontal nas posições que assumi, leal nos comportamentos e nunca deixei de criticar o que entendi merecer a minha reprovação. Nunca me escondi atrás do anonimato, nunca me dirigi aos meus adversários com ofensas ao seu caracter ou personalidade e, contudo, nunca deixei de os confrontar com as suas incoerências, com a falta de rigor, com os seus erros e a sua incapacidade de fazer mais e melhor, dando a minha opinião sobre o seu trabalho, o seu desempenho e as suas propostas. O exercício da actividade política num regime livre e democrático é um direito, não é um privilégio. Diria mesmo que é quase uma obrigação. Defender as nossas propostas, apresentar a nossa visão, pretender trabalhar em prol da comunidade, retribuir, disponibilizar-se para servir os outros. Mas os direitos trazem consigo responsabilidades que devem ser assumidas inteiramente. É verdade que quando temos uma actividade pública nos expomos conscientemente à observação dos outros, à crítica, ao juízo e escrutínio dos outros, mas isso não significa que nos queiramos expor à devassa, à ofensa gratuita, aos atentados ao nosso carácter e à nossa personalidade.
Não tenho dúvidas que, na esmagadora maioria dos casos, aqueles que têm uma cultura democrática e de liberdade, que valorizam o esforço para as conseguir ter e manter, a importância de as vivermos plenamente, facilmente concordarão comigo. Quanto aos outros, restará a esperança de se sentirem isolados nesta demanda, de que compreendam que mais tarde ou mais cedo ficarão a falar sozinhos, engolindo o veneno que destilam sobre os outros, por cobardia ou simplesmente porque, infelizmente, não tiveram o privilégio de conhecer os valores da liberdade e da democracia, que sistematicamente violam com os seus comportamentos. Ficarão encerrados na sua libertinagem, no labirinto do desrespeito pelo outro, sozinhos, pois claro! Não me restam, pois, quaisquer dúvidas de que os alpiarcenses, se ousarem ver com os seus próprios olhos e sentir com o próprio coração, saberão, como sempre, honrar a liberdade e a democracia tão arduamente conquistadas.
Sónia Sanfona – Partido Socialista