Este é um tempo em que se pode e deve pensar em aproveitar melhor os nossos recursos próprios para promover o desenvolvimento das comunidades locais e o crescimento do País.
Um dos recursos locais que temos é o Paul da Gouxa e o seu vale. No seu conjunto é uma unidade natural viva e única em Portugal. Situa-se num corredor de migração internacional de aves, tem manchas de plantas que só aqui existem – uma vastíssima área de salgueironegral – um curso de água ainda vivo e um enquadramento ambiental excepcional.
Para além disso tem uma fauna abundante, se se considerar a superfície que o Paul ocupa e a quantidade e variedade de animais que nele habita.
O Paul da Gouxa, ou Paul de Alpiarça, é alimentado pela ribeira da Atela, e foi “colonizado” por uma mancha de salgueiros-negral, ou Borrazeira-preta, que a Profª Dalila Espírito Santo, do Instituto Superior de Agronomia – quando há anos atrás nos visitou – considerou ser a maior mancha contínua de salgueironegral da península ibérica, com um enorme valor natural, e com um potencial muito interessante para a atracção turística e a educação ambiental, desde que devidamente enquadrado por um projecto próprio.
Ali encontram refúgio e alimentação algumas espécies de aves, como o colhereiro, a garça- -imperial, a Garça-nocturna e o papa-ratos; e ali nidificam o mergulhão-pequeno, o frango de-água, a franga-de-água-grande, a franga-de-água-pequena, a galinha-de-água e o galeirão-comum. A lontra, a águia de asa redonda e a raposa igualmente ali encontraram condições ideias para viver.
São abundantes os caniços, os bunhos e os lírios amarelos.
As actividades existentes no Vale do Paul não o ameaçam: duas unidades de criação de Cavalos Lusitanos – no Casalinho e no próprio Paul -, uma indústria de laticínios de elevada qualidade no Vale da Lama e uma unidade de criação de aves exóticas, para além das explorações agrícolas tradicionais. Estas actividades são felizmente complementares com a ideia de Reserva Natural porque se interligam com um futuro projecto de desenvolvimento turístico.
O ponto de partida para esse projecto deve ser o de considerar todo o Paul até ao Vale da Lama como um património natural nacional susceptível de aproveitamento para fins ambientais, turísticos e agrícolas.
Na visão que temos de desenvolvimento do Paul devem ser incluídos todos os proprietários de terras que se queiram associar num projecto integrado de Reserva Natural, dando-lhes o direito de construir pequenas unidades hoteleiras, ou outras, ao longo do Vale, assim se consiga convencer os proprietários propondo-lhes o envolvimento nos projectos.
É possível conciliar indústria e desenvolvimento económico com a preservação da natureza. Não se trata de uma ideia de projecto para o curto prazo mas, com o sucesso Reserva do Cavalo do Sorraia e a força do seu exemplo, com a barragem, e com as duas unidades ganadeiras de criação de cavalos puro-sangue lusitanos, há condições para se poder trabalhar para um projecto bem-sucedido no futuro, associado ao Paul do Boquilobo. O facto de a Reserva do Sorraia e a barragem pertencerem no seu conjunto à Câmara Municipal e à Fundação José Relvas, traduz-se em garantias acrescidas de solidez e credibilidade para a liderança de um futuro Parque Natural que inclua o Paul em toda a sua extensão.
Porque não? Ideias e energias não faltam em Alpiarça, assim achemos que vale a pena contar com todas as pessoas e entidades interessadas no desenvolvimento local e regional.
João Monteiro Serrano
(o autor escreve segundo o Antigo Acordo Ortográfico)