Centenário das Aparições de Fátima: “Aos três pastorinhos de Aljustrel”

Caro leitor do Alpiarcense

Como já é do conhecimento do público, o Santuário de Nossa Senhora de Fátima tem-se empenhado em assinalar os Centenários das Aparições, respectivamente, de 1916-2016 do Anjo da Paz/de Portugal, já comemorado no ano anterior e este ano, de 1917-2017, o das Aparições Marianas da Senhora do Rosário, como se apresentou.

Motivo este, que começou por ser anunciado pelos meios de comunicação social e justificado pela vinda de Sua Santidade o Papa Francisco, à Cova da Iria, na passada celebração Aniversária do mês de Maio. Em anterior edição demos a conhecer o itinerário da sua visita, cujo ponto alto, agora conhecido, foi a Canonização dos Beatos Francisco e Jacinta. Foi lá, em Fátima, nesse local sagrado, que lhes foi revelada a Mensagem do Céu, que tantas transformações viria trazer ao Mundo, nos anos 80 e 90 do século passado, entre os quais a queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética, aos quais o Papa São João Paulo II esteve profundamente associado. No intuito de, também o Almeirinense assinalar este Ano Jubilar, passaremos a transcrever excertos das Memórias da Irmã Lúcia, seguidos de breve comentário.

Comecemos por nos situar à data dos acontecimentos: de 1914 a 1918, os povos viviam os seus dias sob as mais nefastas e incontáveis consequências da I Guerra Mundial, dos países aliados contra a Alemanha, dos quais Portugal fez parte e onde muitas e muitas vidas de militares e civis se perderam, deixando Famílias de coração dilacerado, na dor de Pais, Filhos, Viúvas e até órfãos, no meio do medo, da incerteza, miséria e fome… As preces e lágrimas subiam ao Céu na derradeira esperança do fim da guerra.

Por outro lado, em Portugal, desde 1910 que se viviam tempos de agitação político-religiosa: estava-se na primeira República, e a Religião era tida como um problema a resolver. Foi vasta a expulsão de muitas Ordens religiosas e a confiscação dos seus bens a favor do Estado português. Dor, perseguição, roubos, ameaças de morte… marcavam os seus dias. Era este o triste panorama em que se encontrava a Humanidade!

Eis que, em 1916, começam a ser preparados aqueles que viriam a ser os primeiros fidelíssimos mensageiros da Mensagem Cristã de Paz e Misericórdia , único e seguro caminho, capaz de garantir aos povos o fim da(s) Guerra(s) e a alvorada da Paz, sempre tão desejada. Foram eles, os humildes e tenazes pastorinhos de Aljustrel: Lúcia de Jesus, com 10 anos de idade, prima direita dos irmãos Francisco e Jacinta Marto, respectivamente com nove e sete anos.

EXCERTOS da I APARIÇÃO DO ANJO, na Primavera de 1916, relatados pela Lúcia “ – Um belo dia, fomos com as nossas ovelhinhas para uma propriedade de meus Pais que fica ao fundo do dito monte, voltado ao nascente, chamada Chousa Velha. Aí pelo meio da manhã, começou a cair uma chuva miudinha, pouco mais que orvalho. Subimos a encosta do monte, seguidos das nossas ovelhinhas, em procura de um rochedo que nos servisse de abrigo. Foi então que pela 1ªvez, entramos nessa caverna abençoada…Aí passámos o dia, apesar da chuva haver passado e de o sol se haver descoberto, lindo e claro. Comemos a nossa merenda, rezámos o nosso Terço, e terminada a nossa reza, começámos a jogar as pedrinhas. Alguns momentos havia que jogávamos, e eis que um vento forte sacode as árvores e faz-nos levantar a vista para ver o que (se) passava, pois o dia estava sereno. Vemos, então, que sobre o olival se encaminha para nós a tal figura de que já falei. Á maneira que se aproximava, íamos divisando as feições: um jovem dos seus 14 a 15 anos, mais branco que se fora de neve, que o sol tornava transparente como se fora de cristal e de uma grande beleza. Ao chegar junto de nós, disse: – Não temais! Sou o Anjo da Paz. Orai comigo. E ajoelhando em terra, curvou a fronte até ao chão e fez-nos repetir três vezes estas palavras: – Meu Deus! Eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não crêem, não adoram, não esperam e Vos não amam. Depois, erguendo-se, disse: – Orai assim. Os Corações de Jesus e Maria, estão atentos à voz das vossas súplicas. As suas palavras gravaram-se de tal forma na nossa mente, que jamais nos esqueceram. E, desde aí, passávamos largo tempo assim prostrados repetindo-as, às vezes até cair cansados.

“Nesta 1ª Aparição, as crianças começam a ser ensinadas a adorarem a Deus, o Pai da Misericórdia infinita, cujas delícias é fazer caminho com cada homem e mulher e encaminhar-nos continuamente para caminhos de paz e felicidade. Deu a Vida por Todos, porque a Todos Ama com amor incondicional. Não veio para julgar nem condenar, mas para ensinar a perdoar e a praticar gestos de Vida em oposição à violência de toda a espécie, desde o egoísmo ao desrespeito pela dignidade humana e particularmente chamando à fraternidade e protecção dos mais fragilizados das sociedades: velhinhos, doentes crianças pobres, órfãos, viúvas e todos os que mais carecem de esperança para viverem.

Relembra-nos, aqui, a Mensagem de Fátima, que amar a Deu, sobre todas as coisas e aos Irmãos, como a nós mesmos, é a primeira condição para a construção da Paz e entendimento entre os Povos. Continuaremos na próxima edição.

Ana Isabel Gonçalves
*Este artigo está escrito segundo o antigo acordo