Alpiarcenses pelo mundo: Cláudia Sabino nos Países Baixos

Cláudia Sabino admite que não é fã da comida holandesa mas encontrou uma cidade no coração daquele país que lhe dá razões para se sentir bem-vinda nos Países Baixos. É aqui que vive há 13 anos, juntamente com o marido, quando a falta de trabalho a empurrou para fora das fronteiras de Portugal em busca de uma vida melhor.

Como foi a sua infância em Alpiarça?
Tive uma infância normal como a de quaisquer jovens da minha idade, mas o que melhor recordo são as brincadeiras da escola e, mais tarde, as saídas com os amigos para nos divertirmos. Vivi sempre em Alpiarça, que era um pouco diferente do que é agora, fiz muitas amizades, algumas que ainda hoje se mantêm e outras que, ao longo dos anos, se foram perdendo com a minha saída da vila e do país.

Há algum episódio mais marcante da sua adolescência que a Cláudia queira partilhar?
Não acho. De um modo geral, todos acabaram por ser importantes e marcantes, cada um com o seu significado, mas ficaram para sempre na memória. Quando nos encontramos, ainda nos divertimos a falar desses momentos.

Pode relatar um desses momentos?
No final do 9º ano fizemos uma festa de final de ano, que foi bastante divertida. Acabou por ser também uma despedida entre os que iam ficar em Alpiarça e os que iam embora, para outras escolas.

Que motivo a levou a emigrar? Porquê a Holanda?
O motivo foi a falta de trabalho para pessoas jovens, que infelizmente ainda se mantém, a procura de uma vida melhor, e também a necessidade de ser independente. A Holanda, porque o meu marido, que eu namorava na altura, tinha vindo trabalhar para cá através de uns amigos, e eu resolvi aventurar-me também. Já faz 13 anos que cá estou.

Em que parte da Holanda se encontra?
Presentemente, encontro-me em Hoofddorp, que fica a 10 minutos do aeroporto e de Amesterdão, mas já vivi em algumas cidades antes. No entanto, se hoje tivesse de mudar para outra cidade já não queria. Gosto muito de viver aqui.

Porquê? Que diferenças encontra em Hoofddorp, em relação a outras cidades em que viveu?
Esta é uma cidade muito calma, não há confusão como noutras cidades – estou a lembrar-me, por exemplo, de Den Haag – apesar de ser uma cidade situada às portas de Amesterdão.

Como descreve Hoofddorp, as suas paisagens, gentes e gastronomia?
É uma cidade em que temos uma mistura de grandes edifícios e também grandes quintas, com terrenos de cultivo, muitos espaços verdes. As pessoas boas têm as suas tradições, a gastronomia é totalmente diferente da nossa. Eu não sou muito adepta da comida dos holandeses mas eles, pelo contrário, adoram a nossa gastronomia.

Como descreve os holandeses?
De um modo geral são pessoas boas, que gostam de ajudar o próximo. São simpáticos e hospitaleiros mas, é claro, como em todos os países e culturas, também há pessoas menos boas. Quando não se sabe falar a língua são flexíveis, falam inglês para nós podermos entender e também tentam ajudar-nos a aprender a própria língua.

Com as vagas migratórias de refugiados, verificaram-se várias vezes situações de xenofobia. Tem conhecimento de alguma situação semelhante no caso dos emigrantes portugueses?
Eu acho que não, pelo menos no meu caso nunca senti isso, nem antes de haver estas crises dos refugiados, nem agora. A Holanda é um país de muitas nacionalidades e culturas diferentes, talvez seja por isso que não são racistas.

Há algum hábito típico holandês que a Cláudia tenha adquirido?
O levantar cedo para ir trabalhar, porque aqui a maioria das pessoas entram cedo no trabalho, seja em escritórios ou noutros locais, e também o facto de não terem a tradicional hora de almoço, porque aqui são 30 minutos e não se leva comida feita, bastam umas sandes.

O que aconselharia a alguém que quer viver e trabalhar na Holanda?
Aconselho a que venham já com algumas propostas de trabalho certo para poderem começar, porque também não está nada fácil de arranjar trabalho aqui.

Pensa regressar definitivamente a Alpiarça ou encontrou na Holanda um novo lar?
Regressar? Talvez um dia, se a situação em Portugal mudar, e houver mais emprego. Por enquanto, o regresso será só uma vez por ano. Tenho bastantes saudades da família e dos amigos, mas, como se costuma dizer, “a nossa casa é onde nos sentimos bem”, por isso a minha casa agora é aqui. Alpiarça, para mim, é a minha casa de férias.

Que lhe deixa saudades na sua terra natal, para além da família e amigos?
As paisagens de Alpiarça, temos sítios muito bonitos! A comida tradicional, o calor e o sol porque aqui o verão não é muito quente.

Quer deixar uma mensagem aos seus amigos e familiares?
Quero dizer-lhes que tenho muitas saudades deles e que espero que estejam bem. Beijos grandes para todos!