Aos 17 anos, Tiago Gaudêncio era já um jovem decidido a trabalhar para a sua independência. Pintura e estuque, a profissão que aprendeu, é a mesma que continua a exercer agora, 14 anos depois a mais de 2000 km de casa, em Haia.
Que memórias guarda da sua infância em Alpiarça?
Muitas! As manhãs e tardes em que saíamos de casa para ir jogar futebol e nessa altura sem internet ou telemóveis estávamos todos lá. As aventuras pelos quintais dos vizinhos, a tocar às campainhas e fugir, apenas com a preocupação de estar a tempo e horas para as refeições. Enfim, acho que podia escrever um texto bem grande.
Quando e por que motivo emigrou? Porquê a Holanda e particularmente Haia?
Emigrei com 23 anos com a minha namorada. Como qualquer outra pessoa, emigrei à procura de uma vida, ou seja de um futuro melhor. Tinha outra opção sem ser a Holanda porque a minha namorada é francesa e essa era uma das opções mas como tinha um casal amigo que já estava na Holanda, mais precisamente Haia, há algum tempo foi mais fácil a decisão. Ajudaram-nos sempre no que puderam. Deixo, desde já, um agradecimentos aos dois. Comecei por trabalhar nas flores, que a princípio até foi um trabalho engraçado, algum tempo mais tarde comecei a trabalhar na minha área.
Como descreve Haia?
Pessoalmente não acho que seja uma cidade bonita pois em cada rua que passas a construção é toda igual: muitos canais e alguns espaços verdes. O clima é muito instável e há dias em que temos as quatro estações do ano num só dia. A minha adaptação até foi fácil visto que no princípio sempre trabalhei com portugueses. Em relação aos holandeses, naquele tempo muitos eram os que não me aceitavam muito bem, recusavam-se a falar inglês dizendo que estávamos na Holanda e não na Inglaterra. Mas agora é diferente, já aceitam os emigrantes e até se oferecem para ajudar caso seja necessário. São boa gente. Não conheço pratos típicos holandeses até porque eles não têm uma cozinha muito variada como a nossa. Se me perguntassem pela cozinha turca talvez tivesse mais a dizer porque em Den Haag (Haia) praticamente em cada esquina existe uma padaria ou restaurante turcos.
J. Rentes de Carvalho escreveu no seu livro “Com os holandeses” acerca dos mesmos “«Não presta», é a sua exclamação perante o que vem de fora”. Alguma vez te sentiste indesejado como emigrante na Holanda?
Não, e acho que e uma descrição do escritor um pouco forte. São um pouco duros sim, isso são. Indesejado? Não.
Acha que a questão dos refugiados é um assunto que incomoda os holandeses? Porquê?
Eu, pessoalmente, já falei com alguns colegas de trabalho holandeses sobre o assunto e não se mostraram muito incomodados com assunto.
Holanda, é de vez ou apenas uma passagem com vista a um regresso definitivo a Alpiarça?
Uma passagem com regresso ainda não agendado a Alpiarça.
Aconselha a emigração?
Claro. Mas a essas pessoas que pensam emigrar aconselho primeiro a reunir toda a informação possível sobre o país.
Receia que o seu país e, em particular, a sua terra, fique cada vez mais deserto com a crescente vaga de emigração que se tem verificado?
Sim, claro, porque cada vez mais infelizmente essa é a solução para muita gente.
Sente saudades da sua terra natal? O que lhe deixa mais saudades em Alpiarça?
Sim muitas. Dos meus amigos, sogra, cunhado e sobretudo da minha família. Aproveito para deixar o meu muito obrigado aos meus pais e dizer-lhes que os adoro. Pai e mãe, muito obrigado!