Alpiarcenses pelo Mundo: A vez de Pedro Vaz

Pedro Vaz trocou as festas do Patacão e um café em Alpiarça por uma vida monetária mais desafogada. O jovem de 30 anos, natural do Casalinho, não esquece a sua terra mas admite que não regressará tão depressa dos Países Baixos, onde se encontra de momento a residir e trabalhar.

Que memórias guarda da sua infância em Alpiarça?
Lembro-me do jardim de infância e de começar a jogar nas camadas jovens do Águias. Como era do Casalinho passava as férias de verão em Alpiarça em casa de uns tios. Ali brincava muito com os três “Joãos” do prédio: J. Relvas, J. Quartilho, J. Freilão e a Joana Lagarto. Era muito animado fazer cabanas e jogar à bola. Sempre estive dividido entre Alpiarça e Casalinho onde também passei bons tempos de infância.

Quando e por que motivo emigrou? Porquê a Holanda e particularmente Rilland?
Quando tinha aproximadamente 20 anos fiz uma campanha de verão durante as férias da escola e fui para a Holanda três meses onde acabei por conhecer um patrão holandês que falava português e ficámos amigos. Voltei para Alpiarça, terminei o curso e abri um café por cinco anos mas a crise começou a dar sinais, muitos impostos, decidi trespassar o café e voltar à Holanda, faz agora 4 anos.

Como descreve Rilland e a Holanda?
Bem, eu vivi em Rilland um ano. Agora vivo em Yerseke, uma vila pequena. O clima é um pouco cinzento, chove muito no inverno, neva um pouco, o verão é igual ao nosso mas com menos 10 graus. A minha adaptação teve altos e baixos mas como sou aventureiro e aqui a maioria das pessoas fala inglês, ajudou bastante. O maior desafio é mesmo a comida, não têm uma gastronomia rica como a de Portugal. São os holandeses (vizinhos) que ficam maravilhados com os pastéis de nata e de bacalhau que às vezes ofereço. Da Holanda só me surpreendeu a variedade de queijos e das stroopwafels de mel que vendem nas feiras. São bolachas tipo wafles mas com mel por dentro. Também têm uma coisa muito típica, a salsicha frikandel com quatro carnes.

A Holanda é mais um país que se debate imenso (a nível interno) sobre a questão dos refugiados: abrir ou não as fronteiras? Acha que o partido de extrema direita, liderado por Geert Wilders, e as suas ideologias nacionalistas conservadoras começam a conquistar o povo holandês?
Sim, os holandeses são extremamente nacionalistas e defendem o que é deles. Aqui as coisas funcionam, vê-se desenvolvimento e bem estar da população, eles nunca vão aceitar muitos refugiados nem desordeiros. São liberais mas com o que fazes em privado. Esta situação incomoda um pouco os holandeses porque eles não estão dispostos a dar dinheiro a troco de nada.

Aconselha a emigração?
Sim, nem que seja temporário, para alargar horizontes e a visão do mundo. Gostava de voltar e lutar pelo meu país e pela minha terra. Mas os nossos governantes não param de desapertar o cinto enquanto metade da população passa mal.

Receia que o seu país e, em particular, Alpiarça, fique cada vez mais deserto com a crescente vaga de emigração que se tem verificado?
Acho que se vai tornar inevitável, as pessoas querem uma oportunidade mas já não acreditam no país.

Sente saudades da sua terra natal?
Claro que sinto saudades de Alpiarça, dos amigos e familiares, da boa comida, o nosso rio Tejo que está a ser envenenado e que já foi palco de grandes momentos. Tenho saudades dos nossos campos no verão cheios de frutas e hortaliças, da nossa barragem e da vista do miradouro.

Holanda, é de vez ou apenas uma passagem com vista a um regresso definitivo a Alpiarça?
Inicialmente era para ser temporário mas como posso voltar para Portugal se estou num país em que se ganha três vezes mais e a gasolina e os bens de primeira necessidade são mais baixos que em Portugal?! Agora que estou estável não penso voltar nos próximos 10 anos.