“Quando uma criança entende que a morte faz parte da vida, deixa de o ser” – Nuno Peixinho conheceu o significado da perda muito jovem. Embora cozinheiro de profissão, as refeições da mãe continuam a ser os seus pratos favoritos. Nuno faz parte dos 80 mil portugueses que vivem no Luxemburgo, uma fatia que corresponde a 16% da população total do país.
Como se descreve o Nuno?
Ora, quem sou? Fiquei bem cedo sem pai e fui educado com os meus dois irmãos pela melhor mãe do mundo. Desde logo, tive de aprender a tomar conta de mim e dos meus irmãos pois a minha mãe tinha que se multiplicar por vários trabalhos, decerto que isso moldou a minha personalidade: dedicado à família, amigos e trabalho. Concluí o nono ano de escolaridade em Alpiarça e com 17 anos integrei as fileiras do Exército Português onde terminei os estudos e formei-me em audiovisuais. Tive ali os melhores 10 anos da minha vida, passei por todas as práticas e vivi a irmandade militar, isso fez de mim o que sou hoje.
Como recorda a sua infância em Alpiarça?
Muito boa, quando ainda se jogava futebol na rua com os amigos até que nos chamassem para jantar. Consegue recordar momentos marcantes desse tempo? De criança, além da morte do meu pai, a morte de um amigo, Rui Paulo. Ambas ocorreram quando ainda estava na escola primária.
Como lidou com esses acontecimentos tão traumáticos?
Alguém disse que quando uma criança entende que a morte faz parte da vida, deixa de o ser. Sente que, por esse motivo, perdeu parte da sua infância.
Isso reflete-se em si nos dias de hoje?
Sem dúvida. Pois a realidade instalou-se cedo na minha vida. Embora a minha mãe nunca tenha deixado que a ilusão e a fantasia partissem por completo.
Quando decidiu emigrar pela primeira vez e para onde rumou?
Decidi emigrar um pouco antes da depressão financeira ser assumida pelos governantes e acordámos vir para o Luxemburgo.
Foi sozinho?
Não, desde logo, quando pensei em emigrar, sabia que só o faria se fosse possível com a esposa e filhos.
E onde começou a trabalhar quando emigrou para o Luxemburgo?
Lembro-me que cheguei a um domingo e que comecei a trabalhar no sábado seguinte num restaurante português. Já lá vão quase seis anos.
Como descreve o Luxemburgo, as suas paisagens, gentes e gastronomia?
O Luxemburgo é um país de acolhimento, não fosse este um dos fundadores da União Europeia. Um país de paisagens verdes, de castelos e palácios, onde os olhos se perdem em vinhas plantadas em encostas íngremes e abundantes das quais se produz um excelente vinho: o famoso vinho espumante Luxemburguês (Crémant). A gastronomia é influenciada pela cozinha Alemã e Francesa.
E quanto às gentes do Luxemburgo, são acolhedoras como as portuguesas ou reservadas como as francesas?
Não se cospe no prato em que se come, mas reservadas e bastante desconfiadas em relação à nova geração de emigrantes que chega.
Que motivos têm os luxemburgueses para desconfiar desta nova geração de emigrantes?
O facto de virem iludidos com o salário mínimo que aqui se ganha, sem saberem que o custo de vida aqui é muito alto e desde o início ficarem dependentes de apoio social, ficando os luxemburgueses a pensar que os portugueses vêm à procura de vida fácil.
Há algum hábito típico luxemburguês que o Nuno tenha adquirido?
O sair de noite para ir a um bar e pedir uma taça de espumante ou um copo de vinho, pois aqui o néctar de Baco impera.
O que aconselharia a alguém que quer viver e trabalhar no Luxemburgo?
Vir com a certeza de que têm alguém que o acolha e perspetivas de trabalho. Por estes lados a procura já é maior que a oferta.
Costuma dizer-se por cá que o “Luxemburgo” é uma comunidade portuguesa. Concorda?
Em modo de brincadeira – Portugal II. Existem várias comunidades por todo o país.
Mas é fácil, por exemplo, encontrar lojas especializadas em produtos portugueses, ou cafés e restaurantes portugueses?
Posso-lhe dizer que mesmo as grandes superfícies comerciais luxemburguesas vendem produtos portugueses e sim, existem bastantes restaurantes e comércio portugueses.
Pensa regressar definitivamente a Alpiarça ou encontrou no Luxemburgo um novo lar?
Já não vou a Portugal desde que aqui chegámos, mas vou voltar definitivamente com quase toda a certeza quando me reformar. Embora tenha aqui encontrado estabilidade, é aí que está o meu coração.
Que lhe deixa saudades na sua terra natal?
Sem dúvida, a família e amigos e as tertúlias de fim de semana.
Alguma refeição em especial?
Embora eu seja cozinheiro, sem dúvida as comidas da minha mãe.
Quer deixar uma mensagem aos seus familiares e amigos?
Ao contrário do que dizem, longe da vista mas sempre no meu coração.