Alpiarcenses pelo Mundo: A vez de Miguel Pais

Miguel Pais, um Alpiarcense de 36 anos, muito viajado, escolheu para sua nova morada, Londres, no Reino Unido, onde vive há mais de dois anos (desde outubro de 2014). Miguel conta-nos como se deu esta experiência que o levou até terras de sua majestade para treinar cães.

“Vim para o Reino Unido por 3 motivos: porque, por motivos éticos, tomei a decisão de terminar a minha aventura em Itália, onde passei vários anos e temporadas a trabalhar e a treinar mamíferos marinhos (golfinhos, leões marinhos, focas, pinguins e manatins); depois, porque o nosso país tem muito menos oportunidades e condições de vida comparando com países como Inglaterra ou mesmo Itália. Para uma pessoa como eu, com um CV na área dos animais, é muito difícil ter um emprego interessante e minimamente bem pago. Lembro-me que tentei trabalhar num hotel canino na zona de Lisboa, mas quase tive que pagar para trabalhar, e as condições de trabalho eram muito más. Finalmente, o terceiro motivo foi porque tenho uma amiga que se encontra a trabalhar aqui.”

Confessa que não foi ele que escolheu a cidade para viver, mas sim a cidade que o escolheu a ele, devido às circunstâncias envolventes à mudança: tinha uma amiga que “por sorte” se encontrava a trabalhar na cidade, o que facilitou a sua decisão. “Digo sorte, porque Londres é uma cidade incrível: desde uma mistura enorme de culturas (daí o conceito de “melting pot”), emprego super fácil de arranjar em todas as áreas, divertimento e atividades para todos os gostos e, obviamente, a possibilidade de se ganhar muito dinheiro para um dia levar para Portugal!”.

A adaptação à vida quotidiana e à língua inglesa também se revelaram fáceis para o alpiarcense – “Muito fácil, mesmo. Em relação à chuva e ao frio, não é tão mau como se possa pensar. Digo isto, porque sempre fui uma pessoa bastante friorenta e mesmo assim consigo trabalhar sem problemas ao «ar livre». (…) O inglês, para nós, portugueses, não é uma língua nada desconhecida e o facto de ter vivido no Algarve, em Itália e também em Malta fez com que já tivesse lidado com a língua antes.”. Até os seus hábitos mudaram um pouco “Agora bebo em média 3 chás por dia, mas realmente este hábito até é bastante português. Acho que o hábito de Alpiarcense que mantive é aquele de «regateirar» um pouco com as pessoas como um modo social de estar e passar o tempo.”.

Ao perguntar a Miguel sobre as diferenças que mais notou entre Alpiarça e a cidade londrina, a resposta é mais ponderada “Alpiarça, apesar do desenvolvimento nas décadas recentes, é um meio rural. Londres é uma autêntica metrópole, mas, felizmente, com muitos e grandes espaços verdes e poucos prédios. Obviamente que num meio rural encontras pessoas geralmente muito simples. Aqui em Londres, por exemplo em Fulham/Chelsea, onde trabalho neste momento, lido com pessoas/clientes com um nível cultural mais elevado. Mas, no final de contas, pessoas são pessoas em qualquer lado do mundo!” mas é na área profissional que mais diferenças existem “A nível de trabalho, aqui estou no paraíso; se estivesse em Alpiarça, estaria no inferno! Neste momento, trabalho por conta própria, faço uma atividade da qual gosto, não tenho chefes, tenho um horário reduzido e extremamente bem remunerado. Há pouco tempo fui selecionado e fiz uma entrevista para trabalhar, como “canine behaviourist and training adviser” (especialista em comportamento e treino canino), no gigantesco canil de Londres, que mais parece um hotel de 5 estrelas, e que não tenho dúvidas que seja, porventura, um dos melhores canis do mundo. Correu muito bem, mas como o processo de seleção demorou duas semanas, e acabei por acalmar os ânimos, e perceber que o melhor para mim seria não ir para o “super-canil”. A verdade é que ia ganhar um pouco menos e também trabalhar mais duas horas em média, por dia, o que significa ter pouco tempo para praticar futebol, yoga, dedicar-me à música, cozinhar quando chego a casa, assistir a uma série/filme ou jogar às cartas com a pessoa com quem vivo. Para mim, o tempo da escravidão profissional já acabou! Também não posso deixar os meus clientes neste momento, e prezo muito o facto de ser respeitado na zona onde trabalho, e de ajudar todos os dias pessoas que vou encontrando no parque, que têm problemas com os seus cães. Trabalhar por conta própria é, no fim de contas, um descanso para mim, e isso não tem preço. Por isso, o lado profissional é mesmo o melhor de me encontrar aqui, sem dúvidas!”.

Mas mesmo sendo o melhor de estar em Londres, a profissão já trouxe algumas surpresas “Quando comecei a trabalhar por conta própria, quase que fui contratado por uma família árabe multi-milionária. Quando fui a casa deles, percebi logo que não era uma família normal. Vieram-me buscar numa carrinha de luxo e com chofer particular. A casa e os jardins eram enormes e, naquele momento, estavam a construir uma casa de madeira nas árvores para as crianças, que mais parecia um palácio. A casa do vizinho tinha pertencido, nada mais, nada menos, que ao “sir” Elton John e, apesar de os empregados com quem lidei serem todos muito simpáticos, achei aquilo demais para mim e um ambiente um pouco fechado. Preservo muito a minha liberdade!” No entanto, apesar de estar bem adaptado com a vida fora do país, as saudades estão sempre presentes. Saudades “Do convívio entre amigos. De sentir-me «em casa». Das petiscadas com «gente nova» e outra «mais vivida». Do campo, da planície, da barragem e do Patacão!” e da comida também “(…) principalmente das nossas sopas e do peixinho grelhado. Mas como eu cozinho e sempre cozinhei a minha comida, obviamente que como bem e tento evitar a porcaria (perdoemme a expressão, mas é mesmo assim) que esta “rapaziada” come por aqui (“junk food” que nunca mais acaba). (…) Mas, sinceramente, hoje em dia gosto de praticar uma alimentação mais saudável, por isso, mesmo que estivesse em Portugal, seguramente que não iria comer as «paletes» de proteínas (carne, principalmente) e açúcar (da nossa fantástica doçaria) que normalmente os portugueses em geral comem. Eu, que vivi em Itália, penso que atrás da culinária Italiana vem logo a nossa, e só depois as outras.”

Agora que já vive em Inglaterra há algum tempo, pedimos a Miguel que nos dissesse que conselhos daria a alguém que estivesse a pensar mudar-se para Londres “O ideal é vir num pequeno grupo de amigos. Também penso que possa ser mais fácil para um casal a mudança para Londres, por exemplo, uma vez que o mais caro mesmo é a habitação. De resto, se houver vontade de trabalhar, humildade e abertura de espírito, este é o sítio certo para singrar neste momento. (…) se alguém estiver sem emprego ou a pensar enriquecer a sua vida com novas experiências não hesite em vir e em contactar-me, de modo a que lhe possa dar algumas orientações.”.

Com o telefone, a internet e as videoconferências, é muito mais fácil matar saudades da família e dos amigos, além disso Miguel afirma que “(…) também ajuda muito o facto de as viagens de avião para Portugal serem rápidas e baratas, se compradas atempadamente.”. E, apesar de não ser para já, no futuro vê-se de volta ao seu país, à sua terra “Alpiarça e Portugal farão sempre parte dos meus horizontes. Tanto posso voltar ainda este ano como daqui a 5 anos. Isso vai depender sempre um pouco daquilo que a vida me for dando e principalmente daquilo que for sentindo dentro de mim. Por enquanto sinto que sou preciso e que preciso de estar aqui, talvez amanhã as coisas mudem, quem sabe? Quando achar que o meu trabalho com os meus principais clientes está finalizado, talvez volte para Portugal e leve as minhas ideias para desenvolver no meu país. Esta é a minha ambição e tenho também outros projetos em mente. Já vi que ficar focado apenas numa coisa ou profissão não é para mim.”.
“Beijinhos e abraços, em especial para todos os meus amigos dos quais tenho muitas saudades. Continuem a ler o jornal “O Alpiarcense” e tenham um ano cheio de coisas boas. Bem hajam!”
O Jornal O Alpiarcense é que agradece ao Miguel!