Porque é que emigrou?
Emigrei por várias razões. Primeiro, porque me foi dada a oportunidade de fazer um estágio no estrangeiro. Eu vi essa oportunidade e aceitei-a. Tinha a possibilidade de escolher vários estágios e depois as empresas é que selecionavam entre os vários candidatos. Isto foi tudo feito através da Associação de Estudantes Internacional (AEI). Basicamente, há uma lista de empresas e uma lista de candidatos, cada candidato propõe-se às empresas que quer e depois é feito um processo de seleção. No meu caso, eu tinha uma oferta para Edimburgo e outra para a Noruega. Escolhi Edimburgo por ser mais perto.
Trabalha em que área?
Eu desenvolvo softwares, a empresa em que trabalho faz estudos para futura prospeção mineira. Há empresas que fazem prospeção mineira: escavam para encontrar ouro, minerais ou petróleo. O que nós fazemos é sondar um terreno para perceber se há minerais que compensem os encargos de uma escavação. Fazemos uma espetroscopia, que se faz com Raio X. Não cavamos, pomos uma máquina por cima, manda-se uma espécie de laser e depois analisamos isso. Eu estou na parte do software que permite fazer esse tipo de avaliações
Como é que foi a adaptação à vida quotidiana na Escócia?
Não foi muito difícil (risos). As primeiras duas semanas que lá estive foram complicadas porque não tinha um sítio permanente onde estar. Arranjar casa, inicialmente, foi difícil. Quando lá cheguei tinha reservado um quarto numa residência de estudantes, que no verão serve como hotel. Ao fim da primeira semana ainda não tinha conseguido encontrar casa porque foi tudo em cima da hora. Houve vários fatores para isso: primeiro, a empresa disse que precisava de gente imediatamente, e segundo, na altura em que eu fui, não havia casas para a alugar. Eles têm um festival enorme durante o verão, é um mês inteiro, e nessa altura as casas estão todas alugadas por pessoas que vão ver o festival. Ou seja, para mim era difícil encontrar casa nessa altura. Tive sorte, porque uma das pessoas da AEI que estava lá para me receber arranjou estadia para mim durante uma semana. No fim dessa semana consegui arranjar uma casa bastante boa, aliás é aquela onde ainda estou hoje. Foi a principal dificuldade, arranjar casa durante as primeiras semanas. Depois tem sido relativamente fácil. Em relação às pessoas, são tão ou mais agradáveis que em Portugal, toda a gente é bastante simpática. É uma cidade bastante calma, apesar de ser a capital da Escócia. Em termos de vida urbana, parece Santarém, não há prédios muito altos, há muitos espaços verdes, não há muito trânsito. A diferença em relação a Santarém é que não morre tudo ao fim das 17 horas (Risos). Bem pelo contrário, depois dessa hora vai tudo para os “Pubs” e ficam lá até às tantas da manhã.
Tem carro para conduzir lá?
Não. Não conduzo lá. Hei-de começar a alugar carro para visitar outras zonas, porque ainda não tive essa oportunidade, o tempo não dá para tudo. Mas até agora ainda não conduzi
Acha que vai conseguir conduzir “à esquerda”?
Não vejo grandes problemas, agora. Houve um tempo de adaptação, até mesmo a andar na rua, para conseguir situar-me com os carros para passar a estrada. Mas depois habituei-me. Mas, se tiver carro, quem o deve conduzir é a Cláudia, a minha esposa, eu não sou grande fã de conduzir.
Já tem algum hábito escocês?
Os principais hábitos escoceses são: o Rugby na Taça das 4 nações e ir ao Pub às cinco da tarde. Mas, por acaso, ainda não me adaptei a fundo a nenhum deles. As idas aos pubs são sempre no fim de jantar, porque tanto os meus colegas como os da Cláudia não vivem perto uns dos outros. Então, por norma, vamos todos a casa primeiro para jantar. Só depois é que vamos para o pub. O rugby ainda não experimentei, já fui convidado o ano passado e este ano também, mas tenho tido sempre coisas para fazer nos fins de semana da Taça das 4 Nações.
Como é que é a gastronomia na Escócia?
Essa deve ser a pior parte (risos). Eles lá têm coisas muito boas. Mas, a um nível geral, a gastronomia escocesa é tudo um bocado… seco. Como é que hei-de explicar isto? Os enchidos, por exemplo. Se puseres uma chouriça portuguesa a assar na brasa, aquilo deita molho. As deles são muito secas. Com o resto da comida é igual. É tudo muito seco. É característico. Mas já não se prende por aí. Encontras qualquer gastronomia do mundo em Edimburgo, por isso é só escolher.
O que sente mais falta de Alpiarça?
(suspiro profundo e murmúrios) Dos doces. Lá também há muitos doces e por acaso tenho uma pastelaria portuguesa bem perto de casa, de vez em quando vou lá comprar uns pastéis de nata e uns nestuns. Mas a doçaria de Alpiarça ainda é vasta e não se encontra isso com facilidade. Apesar de eles terem lá doces bons, não é a mesma coisa.
Como é que mata saudades da família e dos amigos?
Ah! Isso, todos os dias. Há Skype todos os dias. E venho cá de vez em quando. Têm sido viagens curtas até agora, pelas mais variadas razões. Desta vez é para vir a um casamento. Mas, em princípio, a partir do próximo ano já não tenho mais que fazer estas viagens rápidas. Vou poder começar a vir com mais tempo e com mais calma.
Vai acompanhando as “novidades da terra” ou desligou um pouco de Alpiarça?
As novidades da terra é através da mãe e do pai, que me vão mantendo informado.
Equaciona voltar um dia a Alpiarça?
Num futuro em que consiga manter o meu nível de vida lá, venho. Eu lá tenho um nível de vida muito superior ao que teria aqui. Podia trabalhar 20 anos aqui em Portugal e não ter o nível de vida que tenho neste momento, e estou a trabalhar há dois anos. No meu primeiro ano já ganhava mais do que a minha mãe, que trabalha há mais de 20 anos. Portanto, não brevemente. Provavelmente, não vai ser antes de os meus filhos estarem fora do lar. Ainda não tenho filhos mas irei ter, eventualmente.