Alpiarcenses pelo mundo: A vez de Ana Ribeiro Ferreira

Esteja onde estiver, para Ana Ferreira a “família e amigos fazem a minha terra”. Já volveram dez anos desde que deixou Alpiarça, era então uma jovem de 22 anos. O destino foi o Luxemburgo e hoje diz sentir-se confortável por lá sem descartar a hipótese de voltar a Portugal quando as condições o permitirem.

Como recorda a sua infância em Alpiarça?
Muito, muito boas recordações! Incríveis! Naquela época brincava-se na rua, todos se conheciam uns aos outros, estudávamos juntos e morávamos perto – era só chegar da escola, largar a mochila e ir brincar. Qualquer coisa naquela época servia para brincarmos… Lembro-me das aventuras que vivíamos e das asneiras também; da comida da minha avó, principalmente do arroz doce e das broas (que tenho a dizer são as melhores do mundo). A época que guardo com mais carinho de Alpiarça são os verões em que íamos acampar todos juntos ou simplesmente nos sentávamos cá fora até muito tarde a conversar. Lembro-me que muitos de nós iam trabalhar no verão para ter dinheiro para a Alpiagra e para andarmos nos carrinhos de choque.

Que motivo a levou a emigrar? Porquê o Luxemburgo?
Sinceramente, porque na época comecei a trabalhar muito nova e só ganhava o salário mínimo. Já na altura não chegava para muito e eu punha-me muitas vezes a pensar como seria difícil no futuro. O meu namorado (agora marido) já conhecia mais ou menos o que era a emigração, pois já tinha tido um familiar emigrado e falava muitas vezes em tentarmos a vida noutro lugar. Até que um dia surgiu essa oportunidade, através de um casal amigo que já morava no Luxemburgo há muitos anos. Éramos muito novos mas decidimos arriscar, foi uma coisa repentina, despedimo-nos e fomos mesmo à aventura de mala às costas. Já passaram 10 anos.

Em que cidade do Luxemburgo vive a Ana?
Neste momento, estou a viver em Differdange, fica mais no sul do Luxemburgo, é uma zona com muitos portugueses.

Como descreve Differdange, as suas paisagens, gentes e gastronomia?
A primeira coisa que me vem à cabeça quando penso em Differdange é Portugal, porque Differdange é uma vila onde a maioria dos habitantes são portugueses, onde quase todos se conhecem, têm muitos cafés e restaurantes portugueses, aliás, é difícil sair à rua e não ouvir falar português. A gastronomia aqui nesta zona é mais portuguesa e francesa. Tem jardins muito bonitos e está em grande desenvolvimento agora, pois estão a construir muita coisa de momento nesta zona. As pessoas, como já referi, são em grande parte portuguesas mas os luxemburgueses são também muito afáveis, embora um pouco desconfiados às vezes, mas isso faz parte do caráter luxemburguês.
Em relação aos jardins, quero também referir que aqui é uma zona também com muita floresta e é muito usual ao fim de semana e feriado fazerem-se passeios na floresta com a família, visto que no Luxemburgo o fim de semana “é sagrado” e tirando os cafés e restaurantes, tudo se encontra fechado, à parte a época natalícia.

Há algum hábito típico Luxemburguês que a Ana tenha adquirido?
É difícil não adquirir algum hábito. Quando aqui cheguei era muito nova e já cá estou há 10 anos, só o simples ritmo de vida do dia-a-dia, um pouco da cultura gastronómica – aqui a cozinha francesa – na minha opinião, é muito boa e diversificada apesar de, para mim, não haver nada melhor do que a cozinha portuguesa, de preferência umas migas da minha avó. A cultura luxemburguesa também é muito rica em vinhos e champanhes de alta qualidade, muito apreciado pelos luxemburgueses. Vive-se muito o dia-a-dia e no domingo é, basicamente, para estar em casa com família e amigos, os luxemburgueses apreciam muito o conforto em casa e o convívio.

Há relatos de portugueses que emigraram recentemente para o Luxemburgo sem conseguirem arranjar aí trabalho. Nota que há mais dificuldade em arranjar emprego no Luxemburgo?
Sim, sem dúvida. Noto uma diferença enorme na oferta de emprego de quando cheguei para os dias de hoje. Na minha opinião, muitas pessoas também vêm um pouco iludidas com promessas de trabalho e vida fácil, mas chegam aqui e não é nada como idealizaram, por isso, o melhor conselho que posso dar é terem bem a certeza que têm contrato e residência, senão depois dão por si mesmos em situação ilegal, como muitos que vêm e às vezes acabam sem condições para voltar.
Aqui, é essencial ter contrato para tudo: para ter residência, acesso ao sistema de saúde, etc. Apesar de o Luxemburgo ser um dos países da União Europeia que tem o salário mínimo mais elevado, o custo de vida também é mais alto, o aluguer de uma casa, e até o próprio lixo que fazemos, é faturado.

O que aconselharia a alguém que quer viver e trabalhar no Luxemburgo?
Se pensar em vir, que seja com o apoio de alguém. Que tentem aprender o melhor possível a língua francesa pois facilita muito na procura de trabalho. Se forem diplomados, devem trazer já o diploma ou currículo em francês. Que não se deixem iludir por falsas ofertas. Mas quero alertar, principalmente, que não é fácil emigrar, seja para o Luxemburgo ou para qualquer outra parte do mundo, porque não é fácil deixar a família e os amigos para trás para ir procurar uma vida melhor noutro país; os primeiros tempos são duros e nessa altura muitas pessoas deixam-se enganar.

Pensa regressar definitivamente a Alpiarça ou encontrou no Luxemburgo um novo lar?
Quando vim para o Luxemburgo foi só com a intenção de ficar cinco anos, juntar o máximo possível e voltar para Portugal. Já se passaram 10 anos e, como a minha, existem muitas histórias de pessoas que vêm mas acabam por ficar também por causa dos filhos, outros por causa do sistema de saúde, ou simplesmente porque se habituam ao ritmo e estilo de vida. Voltava para Portugal se tivesse as mesmas condições de vida que tenho aqui no Luxemburgo. Encontrei um novo lar, sem dúvida, e um apoio que, infelizmente, não tive no meu país, mas, se pudesse, claro que voltava para Portugal pois é lá que estão as minhas raízes e o meu coração. A verdade é que, por muito que uma pessoa se habitue ao país que a acolheu, nunca esquece o país que foi obrigado a deixar para trás.

Que lhe deixa saudades na sua terra natal, para além da família e amigos?
Aí posso afirmar, sem dúvida nenhuma, que é a comida. Quando imagino a minha terra é nisso que penso: na família e nos amigos porque são eles que fazem a “minha terra” e, tirando eles, não sinto assim a falta de mais nada em especial, a não ser os passeios pela barragem de Alpiarça, que adoro.

Que deixar uma mensagem aos seus amigos e familiares?
Sim, claro. Quero aproveitar esta oportunidade para deixar um enorme beijo às mulheres da minha família, principalmente à minha mãe, à minha tia e à minha avó, que sempre estiveram ao meu lado. Quero também dizer que tenho muitas saudades e espero vê-las em breve, assim como aos meus amigos que não são muitos mas são os melhores, sem dúvida. Espero abraçar-vos em breve e fazer um petisco à moda da terra.