Mês de outubro foi o mais seco dos últimos 20 anos

O concelho de Alpiarça passou à situação de seca extrema no final do mês de outubro. Todo o território de Portugal continental encontrava-se neste mês em situação de seca severa (24.8 %) ou extrema (75.2 %), conforme avançado no Relatório do Grupo de Trabalho de assessoria técnica à Comissão Permanente de Prevenção, Monitorização e Acompanhamento dos Efeitos da Seca e pelo IPMA.
A seca causou graves consequências na pecuária, na agricultura e nos recursos hí- dricos, sendo exemplo disso imagens divulgadas a 1 de novembro do rio Douro, na Serra do Urbión, na província espanhola de Sória, local onde fica a sua nascente. As imagens demonstram um Douro completamente seco, apenas apresentando gravilha e pedras. No Tejo, pescadores estimam que a pesca foi afetada em mais de 70% pela poluição e seca, precipitando a escassez da enguia e do linguado.
Nos últimos 65 anos, os anos com maior severidade foram os de 1944/46, 1965, 1976, 1980 e 1981, 1991/92, 1994 e 1995, 1998/99 e 2004/06. As regiões que se localizam a Sul do Tejo são as mais vulneráveis e foram as mais fustigadas pelo fenómeno da seca. A situação de seca extrema tem prejudicado culturas e pasto para animais, ouvindo-se as vozes de vários setores que reclamam do Governo e pedem medidas extraordinárias que lhes permitem fazer face aos prejuízos. O mês de outubro de 2017 foi classificado como o mais seco dos últimos 20 anos e a precipitação neste mês foi identificada como extremamente seca. O valor médio de precipitação em Portugal continental corresponde a 30 % do valor normal, segundo dados do Instituto do Mar e da Atmosfera (IPMA). De acordo com o índice meteorológico de seca PDSI1, no final do mês de setembro verificou-se que cerca de 81% do território estava em seca severa e 7,4% em seca extrema.
O Alentejo é uma das regiões mais afetadas pela seca extrema, com carências de água para alimentar vinhas, olivais e os próprios animais.
Júlio Silva, produtor de tomate, milho e, neste inverno, azevém, diz que já não se lembra de um ano assim há muitos, muitos anos. Explica, “tem-se vindo a agravar a situação, quanto menos chover, pior é para os agricultores, a nível de pasto, como os invernos não têm sido rigorosos, a nível das culturas que fazemos, o verão é péssimo, porque começam os lençóis freáticos a estarem baixos, não há água suficiente nem é reposta no inverno, quando deveria chover não chove”.
O agricultor esclarece que “deveria haver invernos bons a chover muito, a limpar, a lavar, porque não até cheias na altura delas? Era bom para tudo… A nível de bicheza, limpava, a nível de repor o nível dos lençois freáticos, também era bom”. Refere também que ao retirar água dos furos, das valas, do Tejo, ou de outra forma, com a seca têm mais custos, dado que quanto menor o nível da água, maior o consumo de energia e de gasóleo para remover água para a produção. Clarifica também que em anos muitos secos, como foi o caso deste ano, há muitas doen- ças, que se tem de curar várias vezes, o que leva a muitos custos. Confessa também que gostaria que o governo tabelasse os preços e espera que os agricultores se unam para se defenderem, fazendo assim face à indústria e conseguindo um melhor preço para os agricultores.
Júlio Silva admite que há uma tendência de redução dos agricultores que não têm margens para produzir, sendo que situações como a seca vêm a agravar e relevar a situa- ção da agricultura em Portugal.
Em relação a medidas que tem tomado para remediar os efeitos da seca, Júlio refere que “há pouco a fazer”. Tenta rentabilizar a água, regar mais durante a noite, quando a energia tem menos custos e há menos pessoas a utilizar para tirar um maior aproveitamento das bombas.
Perante esta situação de seca extrema, a empresa responsável pelo fornecimento de água canalizada no concelho de Alpiarça, Águas do Ribatejo, promoveu uma campanha de redução de consumos para o estritamente necessário, assim como uma campanha nas escolas para a sensibilização ambiental. A empresa garante que não houve problemas na garantia do fornecimento de água, apesar de nos meses de agosto e setembro os picos de consumo terem disparado devido a regas e lavagens de pisos e viaturas.
O apelo feito por esta entidade é que a população deve “aproveitar a água da chuva e dos poços e suspender as regas programadas”. A empresa relembra também que se deve “proceder às regas da parte da manhã, uma vez que, se se regar nos períodos de maior calor a evaporação da água será mais rápida, assim como tomar duche, ao invés de banhos de imersão”.
Neste contexto da redução de consumos, a campanha “Vamos fechar a torneira à seca”, promovida pelo Ministério do Ambiente, Águas de Portugal, Agência Portuguesa do Ambiente e ERSAR, também apela à poupança de água, tendo como objetivo sensibilizar os portugueses de que “um minuto de desperdício de água é o suficiente para garantir as necessidades básicas diárias de 1 milhão de pessoas”.
Pode ler-se no anúncio da campanha que “Fechando a torneira 1 minuto poupamos 12 litros de água. Se todos o fizermos, poupamos 120 milhões de litros por minuto”, o que, segundo o mesmo, é “suficiente para garantir as necessidades básicas de um milhão de portugueses”. “Não controlamos o tempo que faz, mas podemos controlar o que fazemos com o tempo”, acautela.
Para além destas iniciativas, para fazer face às necessidades do setor da suinicultura e da produção leiteira, o governo reforçou o apoio aos agricultores com o nome “linha de crédito garantida para minimização dos efeitos da seca 2017 – Alimentação Animal”, previsto na Portaria n.º 330 – A/2017, de 31 de outubro.
Estabeleceram assim duas linhas de crédito garantidas para auxiliar o acesso ao crédito por parte dos produtores. A primeira chama-se “Linha de Tesouraria” e destina-se, como o nome indica, a sanar as dificuldades de tesouraria dos agricultores.
A segunda, intitulada de “Linha de Reestruturaçao”, tem o intuito de resolver situações de endividamento para auxiliar situações de dívida para com fornecedores e banca.
O montante individual será feito com base nos seguintes valores:
a) €180, por fêmea das espécies bovina,equina e asinina, com idade superior a 24 meses;
b) € 40, por fêmea das espécies ovina e caprina, com idade superior a 12 meses;
c) €120, por fêmea reprodutora da espécie suína, em regime extensivo;
d) € 5 por colmeia.

O apoio pode ir até aos 15.000€.