África das Joaninhas: O pequeno império da biodiversidade

A sustentabilidade, a agricultura biológica e o vegetarianismo caminham de mãos dadas e são um modo de vida cada vez mais adotado pelos fãs da comida e vida saudáveis. Patrícia Serôdio é um exemplo aqui bem perto de alguém que decidiu abraçar estes termos e colocá-los em prática numa quinta muito especial: a África das Joaninhas.

Segundo o bisavô de Patrícia Serôdio, a África das Joaninhas foi assim batizada porque todos os terrenos daquela área da Gouxa eram conhecidos pelo seu mato impenetrável, e por esse motivo todos foram denominados áfricas. Quanto ao nome ‘Joaninhas’, Patrícia esclarece que se deve ao facto de este inseto, de nome científico coccinellidae, ser um dos símbolos mais conhecidos da agricultura biológica, que é apenas um dos muitos interesses holísticos desta vegetariana.
Foi aos 18 anos que tomou a respeitável decisão de se ‘converter’ ao vegetarianismo. O clique deu-se após uma tradicional ‘matança de porco’. Os “gritos” do animal – como descreveu Patrícia – eram ensurdecedores e soaram algo humanos na sua jovem cabeça “nesse dia pensei: se eu não os consigo matar, porque hei-de comê-los?”. Foi o desenrolar de todo um novelo que é a base da permacultura, um sistema de princípios de agricultura e de design social. Quando questionada sobre se a transição foi difícil, nomeadamente o facto de ter abandonado a carne e o peixe – e Patrícia confessa que gostava bastante de comer ambos – a sua resposta foi que, de facto, se sentiu muito melhor após algum tempo dedicado somente à alimentação vegetariana.

 

O terreno da África das Joaninhas tem cerca de hectare e meio e a horta de Patrícia pareceria ao comum agricultor um caos, mas este é um caos ordenado e, como explica a proprietária, “o caos está intrinsecamente ligado à fertilidade”. As verduras misturam-se umas com as outras, cresce erva entre elas mas o mais curioso é que crescem saudáveis. Patrícia explica que recorre ao método do consórcio de culturas já que algumas plantas que atraem certas pragas, repelem outras e em conjunto ajudam-se mutuamente. Outro dos benefícios da policultura em detrimento da monocultura, é que não há tanta necessidade de recorrer aos pesticidas, se bem que, no caso da horta de Patrícia, não existe qualquer tipo de uso destes maleficentes. Entre árvores e trepadeiras de fruto, como pereiras, diospireiros, maracujaleiros, chuchus e verduras, como alfaces e couves, a quinta tem de tudo um pouco e tudo cresce ali como se de um oásis agrícola se tratasse. E, em boa verdade, foi esse mesmo ambiente que Patrícia Serôdio ali criou, prova disso são os muitos cogumelos que crescem por toda a propriedade, algo completamente inexistente nas hortas convencionais.

Para além deste consórcio de culturas, há um outro consórcio na África das Joaninhas mas este é composto por animais: cães – para a vigilância; gatos – para fazer face aos ratos; galinhas, patos e gansos aos quais Patrícia chama de “motoenxada, corta-relvas e espalhadores de estrume profissionais”. Há ainda um lago onde, para além dos patos, habitam também as devoradoras de lesmas da horta: rãs.
E deste pequeno caos sai uma harmonia perfeita, que é tranquilizante e quase tão palpável como os frutos que pendem dos ramos.
A ideia de começar a sua própria quinta surgiu depois de ver um amigo a tomar semelhante iniciativa com um terreno abandonado dos pais.
Embora, a princípio tivesse começado só pela horta, hoje Patrícia quer fazer daquele terreno a sua casa e também esta tem traços sustentáveis. As paredes são feitas com uma mistura de areia, palha e água, o wc é uma divisão aparte da casa e é bastante rústico.
Também o voluntariado faz parte do modo de vida em que Patrícia acredita e é uma ajuda valiosa no processo de evolução da quinta, que requer imenso trabalho e tempo. Patrícia espera um dia poder comercializar os produtos biológicos da sua propriedade mas confessa que é um processo longo e árduo que levará o seu tempo, tempo esse que Patrícia está disposta a esperar porque tem a certeza que o resultado será recompensador.