À conversa com David Canha: Uma Vida a Cores

Na sequência da apresentação do projeto CULTURAGORA promovido pela Câmara Municipal de Alpiarça, o jornal O Alpiarcense irá dar a conhecer, sempre que possível e ao jeito de conversa, aos seus leitores os artistas que participam no ciclo de exposições “Gentes da Nossa Terra “a decorrer na Biblioteca Municipal de Alpiarça . Começamos assim nesta edição com uma curta entrevista ao pintor David Canha.

24 anos, militar de profissão, para este jovem pintor a pintura começou cedo e é um escape, um refúgio em que a vida é o mote principal. Pinta tanto acrílico como spray, faz desenho a carvão…tanto lhe faz, desde que seja pintura. David expõe pela primeira vez a sua obra, na Biblioteca Municipal de Alpiarça com 13 obras, algumas em composição, onde o autor expressa a sua preocupação pela natureza humana, pela vida. São constantes as suas alusões à árvore, à máscara num jogo simbólico entre cores e formas.

Desde quando começou a pintar?
Desde muito cedo. Já na escola o fazia. Foi mesmo na disciplina de educação visual que despertei para o desenho. E este contacto na escola com as artes é fundamental para nos estimular a criatividade e para nos fazer evoluir e crescer como pessoas.

Mas a sua profissão não têm aparentemente nenhuma relação direta com as artes?
Sou militar. Apareceu- me uma oportunidade de ingressar no exército e entrei. Mas a minha formação é multimédia que tem uma relação com a prática artística. E talvez a minha relação com os amigos que estão ligados à multimédia. Acho que foram estes encontros com gente diferente que me fez gostar de pintar. E talvez por influência do meu pai que eu via desenhar é que costumava desenhar comigo. Não tenho formação em artes mas sou autodidata e procuro sempre que tenho disponibilidade de estar informado sobre a evolução da arte, as técnicas, etc. É preciso trabalhar muito, sobretudo quando se pinta o abstrato, como é o meu caso. O que está por detrás da cor, dos quadrados…

Que gosta mais de fazer na pintura? Desenho a carvão, pastel…
Tanto gosto de desenho, carvão como óleo…é pintura! Agora estou a entrar no graffiti pela mão de um amigo que me puxou. O graffiti está muito do dinamizado, o que é extraordinário. Até porque as Câmaras municipais têm tido um papel extraordinário na divulgação desta arte e nos seus artistas.

E graffitti?
Olhe, estou a dar os primeiros passos. Para o graffitti a escala é outra. Tudo tem outra dimensão. Mas é um desafio que me tenta.

É a sua primeira exposição?
Sim. E tem sido extraordinário. Espero ter mais oportunidade. E agora vou ter também está experiência com um workshop destinado à população sénior.

A pintura é um escape?
Hoje em dia é difícil sentirmo-nos realizados com o trabalho mas temos que encontrar essa realização na vida. É nesse sentido que vejo a pintura, como realização.

É impossível viver da artes?
Sim, tirando os grandes nomes da pintura…é impossível. Até porque, no meu caso eu não sei “fazer um preço “ para o que pinto. Até que já me vieram perguntar quanto custavam os meus quadros…Isto de vender o que fazemos… Nem me sinto bem. Tudo gira em torno de dinheiro na nossa sociedade. Eu não me sinto nada confortável nestas matérias mas tem de ser.

O tema que escolheu para esta sua primeira exposição é “ Luz e Cor”…
Sim, sim, sou fascinado pela cor. Vou buscar elementos como o ADN, a árvore e uso esse elementos para esconder histórias. Sou intuitivo: tenho uma ideia e é a partir daí que estabeleço um equilíbrio nas cores e formas. Sou simbólico e quero que as pessoas questionem a vida é a pensem de forma bonita. Uso a cor, o verde da esperança, o vermelho do fogo, o oxigênio para a vida na árvore, os céus, as paisagens…O simbolismo no quadro “A determinação “ que reflete sobre a evolução humana, da infância à velhice… A minha preocupação temática está em torno desta perda do sentido de humanidade para o Homem. O tema desta exposição- Luz, Cor e Vida – diz-nos que é a vida que nos dá os cinco sentidos; pela visão eu exerço o meu ato de ver o quadro mas é a luz que me projeta a noção de dimensão, através do relevo, e que me permite ver o quadro

Porque dá tanto valor à vida na sua obra? O facto do seu pai ser bombeiro trouxe- lhe essa consciência da vida?
Sim, há essa influência. As pessoas não prestam atenção à vida e passam por ela sempre aceleradas.

O que planeia futuramente?
Quero continuar a pintar e gostava de participar em mais exposições . Esta possibilidade que a Câmara me deu e dá aos artistas é fundamental. Porque não há muitas oportunidades destas que servem não só como mostra do que se vai fazendo atualmente mas também como forma de lançar novos nomes das artes no mundo.